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    Exclusivo - Pedalando com Molière pretende "dar vida" ao texto de O Misantropo, diz diretor

    Philippe Le Guay conversou sobre a comédia dramática Pedalando Com Molière, no qual Fabrice Luchini interpreta um ator recluso, semelhante com o Misantropo da peça homônima.

    por Bruno Carmelo

    Philippe Le Guay (à esquerda) com Fabrice Luchini durante as filmagens de Pedalando com Molière

    Estreia nesta sexta-feira nos cinemas o filme francês Pedalando com Molière, dirigido por Philippe Le Guay. A comédia dramática gira em torno de dois atores: Serge (Fabrice Luchini) era um respeitado ator de teatro, mas se cansou do mundo do espetáculo e decidiu viver longe dos palcos. Já Gauthier (Lambert Wilson) é um astro da televisão, com poucos recursos dramáticos, mas muito popular. Os dois acabam se unindo para interpretar "O Misantropo", de Molière, mas os confrontos entre estilos tão diferentes comprometem o resultado da peça.

    Durante o Festival Varilux de Cinema Francês 2013, Le Guay conversou em exclusividade com o AdoroCinema sobre o filme. Depois do bem-recebido As Mulheres do Sexto Andar, ele investou novamente em um filme leve e despretensioso, em parceria com Luchini, com quem já trabalhou diversas vezes. O cineasta explicou como nasceu a ideia, como escolheu seus atores e a surpresa quanto à recepção do filme.

    Confira nossa conversa com o diretor:

    Pedalando com Molière

    A ideia de Pedalando com Molière nasceu de uma conversa entre você e Fabrice Luchini, não é?

    Isso mesmo. Na verdade, foi mais do que uma conversa: nós estávamos andando de bicicleta os dois na Ilha de Ré, e ele começou a declamar versos e Alceste, da peça "O Misantropo", de Molière. Nesta hora eu já imaginei um filme, com um ator que teria abandonado a profissão, que teria ido para a Ilha de Ré e se recusado a interpretar. De tanto ensaiar "O Misantropo", ele se tornaria o próprio misantropo.

    Fabrice Luchini pensou inclusive em dirigir o filme.

    Teve um momento em que ele pensou em dirigir. Eu o encorajei a fazer, porque todos os atores têm vontade, em alguma fase de sua carreira, de dirigir um filme sobre atores. Mas eu não queria me envolver nesse projeto, porque eu tinha outra visão da coisa. Eu queria criar uma história, já ele queria fazer uma espécie de reportagem sobre um ator e sua relação com Molière. Mas ele acabou desistindo e eu retomei a ideia, e me inspirei muito dele mesmo. Assim como Serge Tanneur, Luchini conhece "O Misantropo" de cor. Ele tem uma intimidade incrível com o texto. Ele já interpretou vários textos clássicos, como Victor Hugo e Baudelaire. Mas ele nunca tinha interpretado Molière no teatro.

    Como foi a experiência de dirigi-lo, depois de tantos filmes juntos?

    Esta foi a quarta vez em que trabalhamos juntos. Foi um prazer, como sempre. Eu me sinto muito próximo dele, e adoro a maneira que ele tem de olhar cada cena. Ele tem muita energia, muito humor, e isso é um presente para qualquer diretor.

    Como você escolheu Lambert Wilson e Maya Sansa para o filme?

    Eu sabia que era uma relação entre atores, e eu queria que o personagem diante de Luchini fosse alguém da televisão, de grande popularidade, mas com poucos recursos em relação ao outro. Eu escolhi Lambert porque é um homem completo, muito versátil, que já interpretou todos os tipos de texto. Eu pedi para os dois lerem um texto juntos, e gostei muito do efeito. Eles se completavam.

    O caso de Maya Sansa foi diferente, porque ela não interpreta uma atriz. Eu queria que fosse uma italiana para tornar a proposta mais ampla. Esta é uma pequena ilha, no inverno, e é fácil imaginar alguém que vem de longe. Isso acrescentava uma estranheza, porque a personagem não conhecia os atores franceses. Eu vi Maya em um filme de Claude Miller, Voyez comme ils dansent (2011). Na hora, eu sabia que ela era a atriz ideal.

    Você escolheu um texto bastante conhecido na França. "O Misantropo" é lido em todas as escolas. Isso ajudou a recepção do filme em seu país? E fora da França?

    Na verdade, as pessoas não conhecem tanto assim. Eu pensava que seria mais conhecido, por isso escolhi o título (“Alceste de Bicicleta” na França). Mas talvez tenha sido um erro, eu deveria ter mantido “Pedalando com Molière” (título original), que seria mais fácil. Sobre a exibição fora da França, eu não acho que seja necessário conhecer Molière para gostar do filme. O filme é feito para quem não o conhece. O importante é que as palavras dele ganhem vida. Aliás, Pedalando com Molière mostra o comecinho da peça, as primeiras palavras, e nunca vai além. Eu tento transmitir ao espectador de qual maneira Molière está presente em todos nós, por ter mostrado de maneira excepcional o peso e a responsabilidade de ser sincero.

    Grande parte do filme ocorre nos ensaios dos dois atores. No começo, eles não encontram o tom exato para a peça, e aos poucos vão achando o ritmo. Como você trabalhou essa gradação com eles?

    Na verdade, tudo estava bem previsto no roteiro, este é um filme em que tudo é controlado pelo texto. A progressão já estava presente. No início, Luchini interpreta Alceste de maneira muito exterior, ele grita. Isso é interessante: não é uma má atuação, mas ela não tem nuance. Já Lambert adota uma maneira muito intelectual de construir o personagem, o que não ajuda em nada. Seu personagem é um mau ator, porque ele não consegue compreender o caminho necessário. Assim nós encontramos o tom exato.

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