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    Entrevista: "É difícil encontrar espaço para o cinema nacional que não seja uma comédia", diz o diretor de A Coleção Invisível

    Bernard Attal conversou com o AdoroCinema sobre A Coleção Invisível durante o Festival de Gramado.

    por Francisco Russo

    Nascido na França e atraído para o Brasil graças aos romances de Jorge Amado, Bernard Attal estreia como diretor de longa-metragens com um filme genuinamente brasileiro: A Coleção Invisível, estrelado por Vladimir Brichta e Walmor Chagas. O AdoroCinema conversou com o diretor no último Festival de Gramado, onde o filme foi premiado com os Kikitos de Ouro de ator coadjuvante (Walmor) e atriz coadjuvante (Clarisse Abujamra). O resultado do bate-papo você confere logo abaixo.

    AdoroCinema: A Coleção Invisível é baseado em um conto escrito por Stefan Zweig, que se passava na Alemanha. Por que adaptá-lo ao cinema?

    Bernard Attal: Há vários fatores que, talvez inconscientemente, não tenha percebido na época. O primeiro é que admiro muito Zweig e, por ele ter se mudado para o Brasil, acredito que tenha uma visão da realidade brasileira diferente, pois é um olhar de alguém de fora. O segundo motivo é que o conto permitia que tratasse de dois assuntos importantes para mim: o lado de manter as coisas e por ser devoto de Santa Luzia. Este filme tem muito a ver com o significado do olhar, esta combinação de elementos acabou me atraindo para o conto de Zweig.

    AC: Desde o início era sua intenção adaptar o conto para o interior da Bahia ou você chegou a pensar em outro local?

    Bernard: Queria fazer o filme na Bahia, com certeza. Como o conto se passava na Alemanha dos anos 1920 precisava encontrar um cenário similar de ruína financeira. Como muitos franceses, vim para o Brasil devido aos romances de Jorge Amado, mas quando fui conhecer o sul da Bahia percebi algo bem diferente do que era mostrado nos livros. Havia este ar de decadência que buscava, mas também uma força existencial à frente desta fragilidade que combinava muito com o conto. Talvez se isto não existisse no sul da Bahia eu não pudesse fazer o filme na própria Bahia.

    AC: Em relação ao elenco principal, como você chegou à escolha pelo Vladimir Brichta, Walmor Chagas e Ludmila Rosa?

    Bernard: Conhecia Vladimir apenas pelos papéis de galã cômico que fazia na TV e no cinema. Até que fui vê-lo em uma peça teatral que fez, Hamelin, onde percebi que ele tinha um potencial dramático que era pouco explorado. Enviei o roteiro, ele gostou... Vladimir foi o primeiro ator contratado para o filme.

    Já para a Saada queria uma mulher baiana forte, pois quando a região entrou em decadência foram as mulheres que tomaram conta no lugar dos maridos. Fiz alguns testes e acabei selecionando a Ludmila. Já o Walmor foi uma indicação do coroteirista Sérgio Machado. Adorei a atuação dele em São Paulo, Sociedade Anônima, mas não sabia se ele ainda trabalhava. Enviei o roteiro, ele topou me receber no sítio dele e a gente ficou conversando. Foi quando descobri que ele tinha muitas semelhanças com o personagem do colecionador. Ele apostou em mim sem me conhecer, pois nunca tinha ouvido falar do meu nome. Foi um presente trabalhar com ele.

    AC: O filme foi gravado no primeiro semestre de 2011 e apenas chega ao circuito comercial pouco mais de dois anos depois. Como foi este processo de espera?

    Bernard: Acho que a parte mais frustrante foi encontrar uma distribuidora para lançar o filme. É difícil encontrar espaço para o cinema nacional que não seja uma comédia.

    AC: O filme ficará marcado para sempre por ser o último trabalho do Walmor Chagas no cinema. Como você lida com esta situação das pessoas lembrarem do filme por este fato, independente das qualidades do próprio filme?

    Bernard: Para mim é uma honra. Walmor fez poucos filmes, pois era muito exigente em relação ao roteiro. Vejo esta marca como extremamente positiva. Ele viu o filme no Festival do Rio de 2012, levou toda a família... Para ele foi um momento de alegria e para nós também.

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