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    Exclusivo - Diretor fala sobre a história de superação em Meu Pé de Laranja Lima

    Marcos Bernstein, diretor de Meu Pé de Laranja Lima, revela como nasceu o projeto do filme, os obstáculos da direção e o contato com os atores José de Abreu e João Guilherme Ávila.

    por Bruno Carmelo

    O cartaz de Meu Pé de Laranja Lima já diz tudo: "Baseado no livro mais vendido do Brasil". De fato, a obra de José Mauro de Vasconcellos já foi lida em dezenas de países, e deu origem a diversos filmes e minisséries. Hoje, talvez as gerações mais novas não conheçam esse clássico da literatura nacional, mas o filme atualiza a história de Zezé (João Guilherme Ávila), garoto pobre e incompreendido pelos pais, que supera as dificuldades criando um mundo fantástico, travando uma amizade tanto com o pé de laranja lima em seu quintal, quando com o recluso Portuga (José de Abreu), um adulto que compreende as angústias de Zezé.

    Em entrevista exclusiva ao AdoroCinema, o diretor Marcos Bernstein falou sobre a longa preparação do filme, as escolhas da direção e a seleção do elenco. Confira abaixo esta conversa sobre Meu Pé de Laranja Lima, que chega aos cinemas dia 19 de abril:

    AdoroCinema: Como você se envolveu com o projeto?

    Marcos Bernstein: Eu estava fazendo meu primeiro longa-metragem como diretor, O Outro Lado da Rua, e a Kátia Machado, que estava produzindo comigo, já tinha o desejo de fazer uma adaptação do livro há muitos anos. Ela me contratou para fazer o roteiro. Aí eu li o livro, que eu conhecia, como todo mundo, mas ainda não tinha lido. Eu adorei, me emocionei.

    Quando comecei a escrever, fui encontrando coisas que me tocaram pessoalmente, como a fantasia, o imaginário e a subjetividade do personagem principal – algo que eu já tinha um pouco em O Outro Lado da Rua, mas aqui eu poderia explorar mais. Eu fui me encantando com o projeto. No final, eu fui convencer a Kátia a me deixar a dirigir, e ela topou.

    O livro já foi adaptado antes, tanto em filme quanto em minisséries. Você levou essas outras versões em consideração para preparar o novo Meu Pé de Laranja Lima?

    Nosso objetivo era ir à fonte, ao livro, e dar a nossa versão moderna, muitos anos depois do lançamento do livro. Só quando o roteiro já estava bem fechado que eu assisti ao primeiro filme. Foi bom ver, porque era um olhar diferente, ainda durante o impacto do livro. Meu Pé de Laranja Lima foi até enredo de escola de samba na época, todos os ônibus do Estado de São Paulo tinham cartazes do filme.

    Depois que eu vi o filme, gostei de saber que cada um estava seguindo o seu caminho, sendo fiel a um olhar. Com o tempo, o cinema começou a fazer remakes, algo que era vilanizado no começo, por ser muito comercial. Mas agora está se tornando uma opção interessante de contar histórias muito legais, que foram contadas há um tempo.

    Como foi criado o tom do filme? Meu Pé de Laranja Lima transita o tempo todo entre realidade e fantasia.

    A relação do Zezé com o pé de laranja lima encanta por isso. Todas as meninas já tiveram bonecas, e meninos tiveram bonecos ou bichos que ganhavam identidades. Nós buscamos retratar esse universo imaginário que ninguém consegue compartilhar com o Zezé, até aparecer o Portuga. Precisava ter esse encantamento, para entender que justamente esse aspecto não era compreendido em torno dele.

    Nós pensamos inicialmente em efeitos digitais, o que todo mundo faz hoje em dia, mas ao longo da produção a gente começou a entender que o mundo do Zezé era mais simples, mais analógico. Ele não pensava num cavalo que voava, mas no cavalo cavalgando em um campo semelhante ao que ele tinha perto de casa. Era um mundo mais colorido, mais infantil, remetendo à infância do cinema, com os efeitos de montagem, cor, luz e som. Isso seria mais verdadeiro com o personagem.

    Estes efeitos aparecem principalmente na relação conflituosa com o pai, que é frequentemente representado por sombras.

    Pois é, a nossa ideia não era fazer um filme sobre violência infantil, mas sobre superação. É um filme que emociona, mas que tem uma enorme luz no fim do túnel. Isso existe por causa da criatividade do Zezé, da capacidade de criar histórias e mudar sua percepção do mundo. Mesmo quando o pai toma algo dele, o garoto está encantado com a sombra, esta é a imaginação dele. Sempre buscamos um lirismo, até nos momentos mais abusivos. O espectador já sabe, neste momento, que ele vai apanhar, não precisa mostrar a surra.

    Como foi feita a escolha do elenco?

    Os jovens são estreantes. A gente preferiu não fazer o esquema de procurar milhares de crianças até achar o ator ideal. Eu já tinha feito isso anos antes, quando o filme quase aconteceu. Mas eu achei melhor discutir profundamente com os preparadores de elenco, para definir o tipo de expressão e de olhar a gente queria. Assim, a gente fez menos testes, mas mais focados. As meninas foram escolhidas ao fim do vigésimo teste, o Zezé foi o sexto teste. Ele já tinha feito um curta-metragem com o preparador de elenco. Ele tinha a emoção do Zezé, que mistura um olhar triste, mas cheio de vida por dentro.

    Com o José de Abreu, eu já tinha feito um roteiro para ele, de um projeto que ele pensa em dirigir. A gente já se conhecia, então, e eu sabia que o personagem tinha uma grande presença, algo que o Zé tem. Ele é como um pedregulho em cena, mas ele também tem um lado de afeto e delicadeza, que é fundamental para o personagem. Ele precisaria ser uma rocha para o garoto, mas cheio de compreensão. O Portuga descobre um afeto maior do que ele imaginava que teria. O Zé fez isso lindamente.

    Justamente, a composição dele é muito sutil. Ele foge dos estereótipos do português cômico, com sotaque carregado.

    A força estava justamente na sutileza. Na primeira cena, ele aparece bravo, mas depois a gente descobre que ele observa o menino com um olhar diferente. Eu achava que, quanto mais delicado fosse, mais especial seria a relação.

    O projeto demorou vários anos para acontecer. Como foi esse processo?

    Inicialmente, esta seria uma coprodução com a França. O livro é adorado e lido em muitos países, como a França, a Turquia, a Coreia e o Uruguai. Nós buscamos parceria com os franceses, seria uma coprodução muito boa, mas nosso sistema de produção demora muito mais, o timing é diferente. A gente precisava ter a mesma quantidade de dinheiro, tanto na França quanto no Brasil. Ele seria falado em português, mas teria um ator francês. Mas nós não fechamos a produção no Brasil no tempo necessário, e perdemos a coprodução. Nós tivemos que repensar o filme, o que levou tempo.

    Hoje, Meu Pé de Laranja Lima já tem distribuição garantida em diversos países.

    Além de todos os países que eu citei, ele também vai para a Alemanha, Espanha e Portugal. O filme já tem uma carreira internacional.

    Meu Pé de Laranja Lima

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