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    Entrevista exclusiva - Nadine Labaki fala sobre o divertido E Agora, Aonde Vamos?

    A diretora falou com o AdoroCinema sobre o processo de criação de seu segundo longa-metragem, que foi exibido no Festival de Cannes e chega aos cinemas brasileiros dia 15 de novembro de 2012.

    por Bruno Carmelo

    Em 2007, a jovem diretora e atriz Nadine Labaki já tinha surpreendido as plateias do Festival de Cannes com ao agradável Caramelo, uma comédia sobre a situação das mulheres no Líbano. Em E Agora, Aonde Vamos?, que chega aos cinemas hoje, ela repete o tema da fraternidade feminina, incluindo também a questão dos conflitos religiosos no país.

    Durante o Festival Varilux de Cinema Francês, em agosto de 2012, ela concedeu uma entrevista exclusiva ao AdoroCinema, falando sobre seu processo de criação, sobre o trabalho com os atores e sobre as reações ao filme:

    Quando fui à sessão, eu esperava um filme leve como Caramelo, mas encontrei uma mistura de gêneros em E Agora Aonde Vamos?, com cenas musicais e momentos dramáticos. Como você compôs o tom deste filme?

    Para mim, este não é um filme que se passa em um vilarejo libanês, entre muçulmanos e cristãos. Este conflito poderia se passar entre duas equipes de futebol, dois irmãos ou dois vizinhos. A história precisava ser universal, e por isso eu não queria que ela fosse realista. A música e a dança trouxeram um aspecto fantástico ao filme.

    Quanto à comédia, eu acredito que o riso pode ser o caminho da cura, porque quando rimos dos nossos erros, nós começamos a corrigi-los. Era importante para mim que o filme brincasse com todas as razões que nos levam à guerra. Mas a tragédia era necessária, porque é preciso perceber a seriedade da situação. Esta não é a história de um grupo de mulheres que se divertem criando estratégias engraçadas e ridículas, é algo muito mais profundo.

    Você construiu cenas cômicas para quase todo o elenco, menos para a personagem que você interpreta. Amale é apenas uma observadora.

    Sim, eu acho que inconscientemente isso me aproximou do personagem. Foi curiosa a escolha do personagem que eu interpretaria quando eu escrevia o roteiro. Ela é como eu na vida real. Eu sempre peço aos atores para não interpretarem, para serem eles mesmos, e eu me imponho esta mesma disciplina.

    Você trabalhou com atores e não atores. Como foi feita a seleção e a preparação do elenco?

    A grande maioria do elenco não tinha experiência como ator. O processo de seleção foi lento, longo e muito delicado. Uma equipe de cerca de vinte pessoas percorreu o país inteiro, e eles filmaram muitíssimas pessoas, qualquer um, que pudessem servir ao papel ou não. Depois eu assisti a todas as imagens, e selecionei as personalidades que chamaram a minha atenção. Podia ser uma maneira de responder a uma pergunta, o sotaque, a maneira de falar, e depois eu revi e acabei escolhendo. Às vezes foram encontros por acaso. Eu encontrava alguém na rua, a pessoa me interessava e eu convidava para o filme.

    Ocorreu algum caso desse tipo em E Agora, Aonde Vamos?

    Sim, o caso mais engraçado foi o de Yvonne (Yvonne Maalouf), que interpreta a esposa do prefeito. Eu estava procurando atores em uma cidadezinha e, na vida real, ela é a esposa do padre local, ela também reza preces. Ela veio nos agradecer por fazer um filme em seu vilarejo, dizendo que era uma honra, e disse que ajudaria no que pudesse. Em certo momento da conversa, eu não prestava atenção em mais nada do que ela dizia, eu só observava o seu rosto, as suas mãos, a sua maneira de falar.

    O personagem já se chamava Yvonne no roteiro, e quando eu perguntei o nome dela, ela disse que se chamava Yvonne. Na hora, eu sabia que era um sinal, ela precisaria estar no filme. Eu tentei convencê-la e ela respondia que era impossível, porque tinha uma posição de respeito, e não sabia atuar... Eu demorei muito tempo para convencê-la e hoje ela é uma estrela no Líbano, ela faz talk shows e seriados de televisão.

    É incrível que a esposa do padre tenha aceitado atuar na cena de um falso milagre!

    Pois é, foi aí que a missão do filme começou. Foram várias pessoas que tinham uma pressão social ao redor, mas que aceitaram embarcar na aventura e levá-la até o fim.

    Como foram as reações do filme, tanto do público cristão quanto do muçulmano?

    Em geral, as respostas foram muito positivas. Sempre existem pessoas conservadoras, que ficam um pouco chocadas com certas cenas, mas a reação foi ótima. Nós batemos todos os recordes de bilheteria da história do cinema libanês.

    E Agora, Aonde Vamos?

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