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    Diário de Cannes: a forma dura e realista do amor, por Michael Haneke

    Diretor de "A Fita Branca", ganhador da Palma de Ouro em 2009, volta ao festival com um filme sobre o amor na terceira idade.

    por Francisco Russo, direto de Cannes

    Não é fácil ver os filmes dirigidos por Michael Haneke. Quem já assistiu Violência Gratuita, A Professora de Piano ou Caché sabe bem disto. Conhecido pela violência e a crueza em seus filmes, o diretor surpreendeu quando anunciou que faria um longa sobre o amor. O resultado foi exibido hoje pela manhã para a imprensa mundial, que o saudou com aplausos.

    Michael Haneke (esquerda), Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintignant nos sets de filmagens

    Amour deixa de lado qualquer romantismo idealizado ao trazer a história de um casal de terceira idade, Georges e Anne, interpretados pelos octagenários Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva. Vivendo sozinhos, eles enfrentam dificuldades após Anne ter sérios problemas de saúde. Seu corpo fica cada vez mais debilitado, exigindo maiores cuidados e dedicação do esposo. Em meio a tanto sofrimento, surge a pergunta: vale a pena viver desta forma?

    A mensagem de Amour é simples e clara: para o diretor, é na adversidade que surge a grande prova de amor. Desta forma o percurso do casal é mostrado em detalhes, a cada piora apresentada, com o máximo de realismo possível. A força do sentimento existente entre eles não está em lágrimas rolando ou declarações saudosistas, mas no compromisso cotidiano de tornar a vida do outro melhor, na medida do possível.

    O diretor e o elenco vieram a Cannes para promover o filme

    Na coletiva realizada logo após a exibição, Michael Haneke declarou estar contente por ter feito um filme simples. "Quando chegamos a uma certa idade, forçosamente o sofrimento acaba nos tocando. Não queria mostrar nada de mais porque não há nada de mais. Não queria rodar em um quarto de hospital, algo já visto várias vezes, por isso preferi filmar em um apartamento", declarou.

    Jean-Louis Trintignant, que não atuava em um longa-metragem desde Janis e John, lançado em 2003, disse que apenas aceitou o papel devido à qualidade do diretor. "Não queria mais fazer cinema. Foi porque Haneke, um dos maiores diretores do mundo, me propôs este papel que aceitei. Mas não voltarei a fazer outro! Acredito que sou melhor no teatro porque nele não posso me ver. Apesar de que, neste filme, foi a primeira vez que gostei de me ver em cena", disse o ator de 81 anos.

    Já sua colega de cena Emmanuelle Riva, que impressiona com um belo trabalho em meio às limitações físicas de sua personagem, disse que as filmagens foram tranquilas, apesar do tema difícil. Isabelle Huppert, que interpreta a filha do casal, concluiu com uma frase sintomática: "Nos filmes de Haneke não são os atores que sofrem, são os espectadores."

    O diretor Michael Haneke, antes da coletiva de imprensa de "Amour"

    Com distribuição nos cinemas brasileiros assegurada pela Imovision, Amour ainda não tem previsão de estreia. Logo abaixo você pode conferir o trailer do longa-metragem.

    Amour

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