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    A Igualdade é Branca
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    3,5
    256 notas
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    2 Críticas do usuário

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    Alan
    Alan

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    3,5
    Enviada em 1 de janeiro de 2024
    Um bom drama, não melhor do que o primeiro filme da trilogia, A liberdade é Azul. Assim como no primeiro filme, não fica claro a relação entre a trama e o lema da revolução francesa, mas isso por si só não prejudica o filme.
    anônimo
    Um visitante
    5,0
    Enviada em 9 de janeiro de 2021
    A IGUALDADE É BRANCA DE KRYSZTOF KIESLOWSKI: UMA LEITURA POSSÍVEL
    por Tatiane Gonçalves
    *O texto contém Spoiler.

    O INÍCIO E A PERCEPÇÃO DA ESTÉTICA
    Esteira, mala, pés caminhando apressada e duvidosamente em plano fechado. O plano se abre com um casal se beijando efusivamente ao fundo. A música tem início no filme com a cena mala-esteira que vai sendo repetida de maneira intercalada, à medida que Karol, protagonista, caminha e entra no Fórum, o seu divórcio. Dois tempos distintos são marcados e se intercalam evidenciando uma narrativa em formato não cronológico encontrando apoio nas imagens e no som. Assim, montagem e trilha sonora costuram os tempos distintos do início da narrativa. Posteriormente a música passa a ser apresentada junto com a memória e o estado de espírito do personagem ao longo da narrativa.
    O filme segue com abundância de símbolos e de metáforas. O breve alumbramento de Karol ao ver o pombo na frente do Fórum só estabelecerá uma ponte para o significado muitas cenas depois. A montagem cinematográfica acendeu a luz sobre essa metáfora. O animal remete ao momento em que a igualdade é branca, o dia do casamento, uma memória trazida com uma iluminação muito branca e luz muito forte, momento feliz de igualdade e unidade do casal em uma meta; os pombos, símbolos de paz, se fazem presentes. O olhar de memória de Karol ao ver os pombos na frente do Fórum é interrompido quando o pombo defeca nele. A igualdade foi quebrada, rompida pelas fezes do pombo, o casamento sendo desfeito.
    Igualdade e desigualdade são postos lado a lado ao longo do filme, alternadamente e com retomadas em várias passagens: no casamento (igualdade do desejo de casar em ambos), na situação inicial dele que estabelecerá igualdade com a dela no final (igualdade no afeto independente da forma como esse afeto foi demonstrado e construído); na dor, que mesmo de diferente forma, se apresenta nele e no amigo do subterrâneo, Mikolaj.
    Em meio à complexidade que é colocar o olhar sobre a igualdade, talvez caiba a reflexão sobre não sermos iguais e sermos iguais sincronicamente. Iguais em direitos, dentro de uma vida coletiva, moral e jurídica e de entendimento humano e diferentes em nossa subjetividade, em nossas construções individuais de significados e percepções de nossa própria existência dentro de um contexto social e histórico.

    A COMUNICAÇÃO, A HUMILHAÇÃO E A VINGANÇA
    O casal estava junto desde a Polônia, mas na França vê crescer um abismo na comunicação. Ele, polonês; ela, francesa. Ele não a entende; ela não o entende. Há sentimentos, mas também ressentimentos. Ambos em situação de frustração. Ele não consegue manifestar a potência de seu amor para consumar o casamento e satisfazer a mulher amada; ela talvez se sinta não desejada, negada em seu afeto e desejo pelo homem amado; ele não a ouve, não a percebe; ela reclama na emblemática cena fogo na cortina: o fogo que lhe é negado alastra-se pela cortina. A impossibilidade de, naquele momento, explorarem outros caminhos.
    A comunicação não se realiza, é como se não houvesse amadurecimento suficiente para a compreensão daquele afeto na ausência da comunicação verbal. Ao longo da história, o amadurecimento chega para ambos, por meios distintos e até tortuosos com crueldade, humilhação e vingança. Eles avançam para um entendimento mais maduro daquele afeto e desafeto. O caminho dele pode ser visto em fragmentos ao longo do filme; o dela, nas cenas finais, no cemitério e a partir da chegada da polícia ao quarto da consumação na parte final do filme. Pouco a pouco a ficha vai caindo para Dominique, ao pegar o passaporte e reconstituir a história do marido “morto” sob a orientação desdenhosa do inspetor. Dominique vai, paulatinamente, vestindo-se da pele de Karol; vai chegando ao lugar onde ele esteve, sem passaporte, sem língua, sem afeto.
    A língua aparece como um elemento de comunicação que não consegue cumprir seu papel ao longo da narrativa, mas realiza-se, por fim, na última cena, sem palavras, por meio do olhar, do gesto e da lágrima. O afeto é, enfim, compreendido. A igualdade desse sentimento só é encontrada depois da vivência de alteridade. Ao vestir a pele do outro, o muro é quebrado.
    A gestão da dor ocorre por caminhos diferentes nos personagens: o desejo de ferir e humilhar, o desejo de vingança, o desejo de morte. Dominique, passional e ferida pela não concretização de seu desejo, humilha e se vinga do marido pela recusa de interação íntima; Karol constrói uma vingança requintada e elaborada - com frieza e planejamento - pelo divorcio e pela negação do tempo que pediu no início da narrativa, na cena do Fórum; Mikolaj deseja e trama a própria morte, por não conseguir executá-la sozinho por se reconhecer recebedor de afeto da esposa e dos filhos.

    MIKOLAJ, O PERSONAGEM DO SUBSOLO
    Coloquemos agora a luz em Mikolaj, o personagem do subsolo. O encontro, e talvez a conexão entre o protagonista e Mikolaj, acontece por meio da música que Karol produz a partir do pente e do lenço, elemento cultural que aproxima esses poloneses. Música que os remete à origem, à terra natal. Eles travam a partir dali um diálogo no subsolo da estação de metrô e fincam a base para uma amizade que crescerá e os fará regenerar de seus processos individuais ao longo da narrativa. São conterrâneos e ali se conhecem e se desnudam bastante, não totalmente. Ali Karol, aos olhos do recém conhecido, parece despertar sua fúria, na cena do orgasmo telefônico, inclusive manifestando sua raiva para um funcionário do guichê quando reclama sua ficha de 2 francos engolida. É rude e áspero, fala com fúria. O único momento em que vaza a raiva de Karol é no subterrâneo curiosamente. A tensão dele é construída no subterrâneo, onde a raiva é gerida, sob a pele, uma metáfora para uma digestão interna das coisas.
    É ainda na cena do orgasmo telefônico, ponto máximo de humilhação que o protagonista experimenta, que nasce nele o sentimento de vingança. Um sentimento que segue em segredo na maior parte do filme, que vai sendo construído silenciosamente no interior do personagem e que só será exposta para o público na porção final do filme, constituindo um elemento surpresa à medida que o plano e a estratégia vão se descortinando. O nível de elaboração da estratégia de vingança dá indícios dessa tessitura interna.
    Ainda no subterrâneo há uma importante reflexão na cena a compra da morte. Mikolay deseja contratar alguém para matar um conterrâneo que deseja morrer, mas não consegue sozinho: tem mulher e filhos que o amam. Mikolaj tem sua vida, seu conforto “aparente”, mas à medida que o filme avança descobrimos que era ele quem desejava morrer, como esclarece a belíssima cena do festim, com seu diálogo espetacular “Por que você quer morrer?” “Todos sofremos.” “Mas eu queria sofrer menos.”.
    Um contraponto que se estabelece no subsolo entre a ausência e a presença de afetos. Mikolaj tem afeto, Karol não tem. O estrangeiro em Paris que perdeu tudo e sofre com a dor, mas não manifesta desespero. Já aquele que manifesta certa tranquilidade carrega o desespero também sob a pele. A cena do festim marca, portanto, uma regeneração para ambos, quando decidem beber e aparecem comemorando com crianças brincando na neve.
    Kieslowski vai deixando fragmentos de significados com maestria para que possamos colhê-los ao longo do filme. Isso nos traz para dentro da história em uma espécie de mergulho ou imersão. Possibilita um descortinamento por meio de elementos sensoriais apresentados na narrativa.
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