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    Alita: Anjo de Combate
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Alita: Anjo de Combate

    O espetacular e o comum

    por Renato Furtado

    Ela usa uma leve blusa roxa, calças jeans, normais, como outra adolescente qualquer usaria, e seus enormes e sonhadores olhos brilham como nunca antes quando a jovem experimenta seu primeiro pedaço de chocolate: não há nada de extraordinário, aparentemente, em Alita (Rosa Salazar). Mas bastam apenas alguns minutos para que ela assuma outra expressão, transmitindo uma fúria insuspeita ao decepar o braço de um androide maligno com uma violenta pernada para proteger o cientista que a salvou do ferro-velho, o médico Dyson Ido (Christoph Waltz). Se há uma lição que fica evidente antes de mais nada é que subestimar a personagem principal de Alita: Anjo de Combate, uma espécie de leve drama adolescente de amadurecimento que esconde em seu cerne uma aventura de ação e ficção científica, é um erro fatal.

    Ambientado no ano de 2563, este mais recente projeto do cineasta Robert Rodriguez (Sin City), baseado na série de mangás homônima de Yukito Kishiro e produzida pelo badalado James Cameron (Avatar), finalmente sai do papel e ganha as telonas com um objetivo muito claro: impressionar com seu verdadeiro espetáculo computadorizado, a começar pelo design de sua protagonista. Completamente integrada ao mundo live-action ao seu redor, a ciborgue-titular encanta tanto por sua construção digital minuciosa, que borra por completo as fronteiras entre os efeitos especiais e o que é capturado diretamente pela câmera de Rodriguez, quanto pela comprometida performance de Salazar, que é cativante e empolgante o bastante para colocar a atriz na rota do estrelato sci-fi e desviar a atenção das fragilidades do roteiro.

    Afinal de contas, toda a questão política, social e dramática traçada pelo material original — lançado no início dos anos 1990 no Japão, durante o boom do cyberpunk nipônico, que concedeu ao mundo obras como AkiraGhost in the Shell —, é diluída por Rodriguez e Cameron para servir como mera plataforma de sustentação às sequências de combate. São atropelados, assim, alguns dos mais interessantes e críticos comentários tecidos originalmente por Kishiro, particularmente no que se refere à relação entre as diferenças de vida na avançada sociedade de Zalem, a única cidade voadora remanescente após A Queda, guerra intergalática esta que levou os cidadãos menos abastados à sobrevivência na Cidade de Ferro, um gueto multicultural marginalizado, empobrecido e dominado por Nova, comandante onisciente de Zalem.

    Em tempos onde a crise de refugiados global vem fazendo renascer todo tipo de autoritarismo e nacionalismo e em um contexto onde os recursos naturais encaminham-se para um esgotamento perante ao iminente desastre ecológico universal, Alita: Anjo de Combate prefere a via mais confortável e aprazível, apesar de tangenciar, quase que inconscientemente, ambas as problemáticas citadas. Por outro lado, também é fato que produção nenhuma tem a obrigação de se debruçar sobre o e/ou inserir-se diretamente no fluxo de eventos externos que orbitam a própria narrativa do filme em si: o entretenimento hollywoodiano é escapista por definição — e esta obra cumpre o seu propósito de maneira clara, direta e objetiva, entregando algumas muito bem desenhadas sequências de pura porradaria tecnológica.

    Da estrutura de Zalem e dos subúrbios labirínticos da Cidade de Ferro à concepção visual dos mais ínfimos detalhes de cada cenário e cada cena de combate, esta ficção-científica é certamente um deleite, sobretudo para os aficcionados pelo mangá original e/ou pelo gênero narrativo em si. Transpondo competente e minuciosamente a imaginação de Yukito das páginas da HQ japonesa para as telonas, Rodriguez e Cameron entregam uma bem-sucedida adaptação, que concretiza em cinema a originalidade que constitui Alita: Anjo de Combate, potencializando as vitórias e derrotas da protagonista através das mais básicas e infalíveis convenções narrativas. Da reviravolta inicial ao doloroso clímax, o filme percorre uma estrada segura, etapa após etapa, executando com folga a "receita de bolo" que é seu roteiro.

    Entre o espetacular e o comum, esta é uma sólida história de origem que abre alas, sobretudo, para um amadurecimento temático do universo apresentado em tela — o jogo do Motorball, que pode ser mais explorado no futuro, é uma sacada muito inteligente e traça outro paralelo interessante com o nosso próprio mundo. E também, é claro, para uma potencial franquia que pode continuar atraindo os talentos de atores como Waltz, Mahershala Ali e Jennifer Connelly, especialmente se apostar mais no drama, considerando esta veia narrativa como algo maior do que uma mera base de apoio — uma das melhores sequências do longa, a briga do bar/no subterrâneo entre Alita e Grewishka (Jackie Earle Haley) jamais funcionaria sem a hábil mescla entre o peso dos possíveis resultados do embate para a jovem e os incríveis efeitos especiais.

    Caso a saga ganhe a oportunidade de ter uma sequência, será interessante ver, por exemplo, como Rodriguez e Cameron tratarão o desenvolvimento psicológico da ciborgue frente às relações que ela estabelece tanto com Ido, quanto com seu namorado, Hugo (Keean Johnson). Existem pontos focais teóricos a serem tratados que podem ajudar a adaptação cinematográfica a alcançar a obra de Yukito, eminentemente acerca da duplicidade existencial de Alita, permanentemente fragmentada entre suas dimensões humanas e suas dimensões cibernéticas. Por enquanto, resta aguardar. Alita: Anjo de Combate pode não ser um primor e pode mesmo até ser esquecido por alguns ao fim de suas duas horas, mas certamente é um bom veículo de entretenimento. O que, às vezes, é o suficiente.

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    Comentários

    • Andrew Cristopher Nunes
      Foram 2 horas de filme que nem vi passar. Melhor filme de todos os tempos, desde V de Vingança, em 2006, se não me engano...
    • Andrew Cristopher Nunes
      Mano, eu li os mangás, e te digo, vocês tem que parar com essa mania de querer ficar comparando as duas coisas. Olhe pra trás e veja quantos filmes como esse tivemos nos últimos anos. Nenhum. Nota 3 meu per*
    • Andrew Cristopher Nunes
      Nem Li também. Até comecei a ler, mas daí percebi que o crítico tava falando bosta e nem vi o resto.
    • Andrew Cristopher Nunes
      Sim, concordo, nota 3, se você tiver algum tipo de probleminha...
    • Andrew Cristopher Nunes
      O filme é incrível. O melhor de todos os tempos desde V de Vingança. Nada mais a acrescentar
    • Andrew Cristopher Nunes
      Teu cu
    • Maria C
      Ô bicho feio essa menina... dá aflição de olhar... mas, deu para me divertir... Valeu.
    • Willian Borchardt
      Os mesmo retardados que falam isso das adaptações cagadas de animes também são os mesmo que esbravejam de filmes de heróis da Marvel ou outra adaptação de alguma outra HQ quando modificam algo que não é do seu agrado.
    • tadeu melo
      Também não acompanhei a obra pelo mangá. Mas o que vi no cinema me surpreendeu. As expressões faciais da Ciborg Alita são super cativantes.
    • Jackson
      Embora não conheça a série mangás no qual foi baseado, achei visualmente bem detalhado e com boas cenas de lutas. Me surpreendeu positivamente, já que não esperava tanto, realmente foi uma grata surpresa. James Cameron em mais uma grande produção!
    • Eu sou
      Sua presença no cinema seria uma ofensa à arte do roteiro adaptado. E uma grande contradição sua. Espero que continue sendo coerente em não assistir a Roteiros adaptados.
    • Mateus Quirino de Jesus
      nao posso contar spoiler
    • Luiz Carlos
      Gostaria de ver esses críticos fazer algo melhor. Esse foi sim um melhores filmes que vi este ano, principalmente com a atriz principal (Rosa Salazar) que se destacou perfeitamente em todas as cenas do filme e ótimos efeitos gráficos. Posso dizer que já vi várias vezes e ainda não perdi a vontade de vê-lo de novo. Se a nota for de 1 a 10, na minha opinião posso dizer que ele merece 100
    • Luiz Carlos
      Gostaria de ver esses críticos fazer algo melhor. Esse foi sim um melhores filmes que vi este ano, principalmente com a atriz principal (Rosa Salazar) que se destacou perfeitamente em todas as cenas do filme e ótimos efeitos gráficos. Posso dizer que já vi várias vezes e ainda não perdi a vontade de vê-lo de novo.
    • Victor Hugo
      Fale por si mesmo, tem muita gente que pensa bem diferente de você.
    • Dalter L
      Quem leu o mangá e assistiu a animação da época NÃO precisa desse filme. É dispensável e uma ofensa à obra original!
    • Gilmar Vicente Sobrinho
      Appleseed Alpha é muito bom também!
    • João Carlos Reis
      se conhecer a história original, dará 3. Sem isso, dará 5.Pergunta para os próximos capítulos: sendo ela tão poderosa, o que a fez sucumbir no ferro-velho?
    • carlos j
      Essa crítica kkkkk, nem perdi meu tempo lendo, filmasso, abre um leque para muitas histórias paralelas, além dos efeitos gráficos lindos. Um dos melhores que vi esse ano, e recomendo demais pra quem gosta de ação frenética com uma leve pitada de drama.
    • Carlos A
      esse filme é realmente uma nota 3, por que apesar de ser muito bem produzido e ter grande atuação, o roteiro foi muito empobrecido pra se caber as diversas cenas de luta e virar um filme POP. se duvida de mim, só ler a historia original.
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