É deveras tocante a forma como uma relação amorosa(como milhares já retratadas no cinema) entre duas garotas(um tema que pouco a pouco está se tornando modismo) de classes sociais diferentes em um refúgio paradisíaco no interior de uma pequena cidade européia(modelo de cenário bucólico) ganha tanta graça e foge do habitual em "Meu Amor de Verão", efeito proporcionado, em grande parte, pela boa atuação das atrizes. A história pode parecer em primeira vista um simples esteriótipo das relações homossexuais adolescentes renegadas pela sociedade, assim como da luta das protagonistas desses romances de manter sua integridade.O filme, entretanto, transcende tais valores ao nos entreter com um panorama de peculiar profundidade sobre as ações humanas associado a um intimismo que chega a causar, em diversos momentos do filme, fortes calafrios Mona é uma garota da baixa classe social, orfã, vivendo com um irmão recém libertado da prisão que subitamente resolve abandonar a única fonte de renda da "família" (um pub entitulado "O Cisne") para dedicar-se, como ele mesmo diz, ao encontro com Deus.Sem verdadeiros amigos a quem recorrer,rejeitada pelo namorado e desprovida de qualquer espectativa, ela compõe basicamente um triste quadro de uma juventude sem sonhos, conformada com a própria vida precária e medíocre. Tamsin,apesar da impressão passada pelo enredo,não difere muito da condição de Mona.Quando a jovem aristocrata pela primeira vez encontra sua futura amiga, seu retrado é o de uma garota igualmente vazia, abastada, sim, mas até demais, uma pessoa cujo tédio quebra as barreiras da monotonia e chega a quase beirar a depressão. É no entanto no encontro de tais personagens que o verdadeiro pináculo do filme tem lugar.Ambas vazias, cada uma à sua maneira, elas acabam se encontrando nas dificuldades da outra, identificando na tristeza e precariedade impregnada na companheira tudo aquilo de que sentem falta em si mesmas.A relação amorosa travada pelas duas ultrapassa a simples atração: é mais uma metáfora(ou, melhor dizendo, necessidade)de duas realidades diferentes em um lírico e harmonioso conflito,criado em condições insustentáveis e com destino algum além da obliteração. Algumas cenas são memoráveis, das quais cito em especial a que Tamsin, acolhendo a pobre Mona em seu quarto na mansão, pergunta a ela sobre sua vida sexual.É trágico e ao mesmo tempo belo observar a retraída vontade de Tamsin em estar no lugar dos devassos episódios narrados pela amiga, assim como seu melancólico desencantamento ao perceber que a vida de Mona, embora cheia de surpresas e obstáculos que ela, em sua bolha aristocrática, não é capaz sequer de sonhar,está longe de se equiparar aos seus sonhos. É impossível dizer mais sem privar o espectador de algumas das passagens mais sublimes dos últimos anos, alguns diálogos cujo nível de seriedade crítica nos fazem olhar melhor para nosso próprio mundo e um final que nos propõe boas reflexões.Em suma, "Meu amor de Verão" recria o amor romântico sem cair na pieguice ao mesmo tempo em que nos chacoalha com um intimismo perturbador que em nenhum momento abusa de cenas chocantes para transmitir sua mensagem.É um filme de sutilezas, algumas mais sutis do que outras, algumas incrivelmente explícitas, mas, de qualquer forma, sutilezas, reunidas em uma verdadeira distopia romântica de uma forma raramente vista na mídia.