O diretor norte-americano Joshua Marston escreveu o rascunho do roteiro em apenas 48 horas, após ter ouvido uma vizinha sua do bairro do Queens em Nova Iorque que tinha passado por uma situação semelhante à protagonista do filme. Essa informação encontra-se nos extras do dvd. Num primeiro plano o filme aborda a pobreza reinante no interior da Colômbia, onde vive a jovem de 17 anos, Maria Alvarez (Catalina Sandino Moreno, que concorreu ao Oscar de melhor atriz neste ano). O drama é o de sempre e conhecido por todos nós: trabalha muito, ganha pouco e ainda é impedida de ir ao banheiro quando está "apertada". Quando ela renuncia ao emprego, sua mãe e sua irmã se voltam contra ela, pois era o dinheiro de Maria que ajudava � e bem � a quitar as contas de casa. O atraso menstrual da protagonista só faz agravar a sua situação. O namorado de Maria, que aparece no início do filme trajando a camisa da seleção de futebol da Colômbia, é um perdedor, com quem ela decididamente não quer desperdiçar a sua vida, mesmo que para isso tenha de recorrer ao tráfico de drogas. Ela aceita ser recrutada para fazer parte de um "exército" de mulheres, a maioria delas de tenra idade, pobres, com o objetivo de transportar cocaína dentro dos seus próprios organismos. Para engolir mais de 50 papelotes de cocaína concentrada (do tamanho de metade de um ovo de galinha) essas mulheres recebem $ 1700. Normalmente o pessoal do tráfico manda várias "mulas" num mesmo avião para que alguma seja pega pela polícia americana, deixando o terreno livre para as outras saírem livres. O preparo de Maria para engolir a cocaína é de lascar; o espectador se sente um desconforto extraordinário. O mesmo sucede no avião que a leva para os EUA. E quando a polícia leva Maria para a sala de interrogação e pede-lhe explicações de onde veio o dinheiro, etc e tal, a tensão atinge o grau máximo. Num segundo plano, e de longe o mais importante, fica claro através da narrativa neo-realista, semi-documental, que evidencia as distorções econômicas entre o hemisfério norte rico e o sul pobre. Como diz uma "mula", que tornou-se amiga de Maria, quando esta a interpelou a respeito de como é a América: "é tudo muito certo, muito certinho". Como o mundo ainda está muito longe de ser globalizado � se é que isso vai ocorrer � mexicanos, brasileiros, colombianos, jamaicanos, haitianos, cubanos e muitos outros povos percebem que a única chance de seus sonhos terem alguma chance de se realizarem é atravessarem a fronteira dos países do primeiro mundo.