Mais um exemplo que as crises econômicas e sociais podem gerar uma grande cinematografia. Novamente nossos "hermanos" do cone sul saem na frente. O professor univertário de literatura, Fernando (Federico Luppi) é forçado a se aposentar precocemente em função de cortes de despesas por parte do governo argentino. Ele que vivia num apartamento que sua esposa, Liliana (Mercedes Sampietro), havia herdado dos pais, se vê obrigado a vender a propriedade e mudar-se para um sítio na província de Córdoba, a 30 km do centro de Buenos Aires. O casal tem um filho, Pedro (Pablo Rago), que desistiu de ser escritor pelo dinheiro que a informática e a Espanha lhe ofereceram. Num dos diálogos mais interessantes do filme, Pedro propõe aos pais que vão vier com ele em Madri. Ao que o pai, esquerdista de carteirinha, rebate dizendo que não admitiria viver do dinheiro do filho e, o que é pior, que ele tivesse abandonado os seus sonhos para viver uma vida burguesa, longe dos seus sonhos. Basicamente o roteiro faz-nos pensar em como lidar com uma situação nova - no caso a aposentadoria - e no limiar da terceira idade. Fernando insiste em viver a sua vida com o maior grau de lucidez possível. Por sinal, a sua definição de lucidez, exposta no final do filme, é brilhante. O casal formado por Federico Luppi e Mercedes Sampietro brilha nesta pequena obra-prima.