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    Piratas Pirados!
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Piratas Pirados!

    Morna pirataria

    por Bruno Carmelo

    Quando se fala em Piratas Pirados!, é difícil ultrapassar a questão técnica: o filme é realizado em stop motion, técnica de animação quadro a quadro, que impressiona pela impressão de dificuldade – estas produções demoram muitíssimo para serem feitas, exigindo meses de construção manual -, contra a aparente facilidade das imagens digitais, criadas e desenvolvidas com programas de computador.

    Logo, o stop motion traz a falsa impressão do cinema artesanal, caseiro (a animação "de massinha"), escondendo o fato de que estas produções, embora sigam um processo de realização distinto dos filmes com atores "ao vivo", também precisam da alta tecnologia e da ajuda dos computadores. Mas ao ver marionetes de piratas se mexendo, dançando graciosamente, piscando os olhos e protagonizando cenas de aventura, a admiração surge pela complexidade imaginada. Ironicamente, para a nova geração, uma imagem digital é algo perfeitamente concebível, enquanto a velha animação quadro a quadro torna-se abstrata, difícil de apreender.

    Pois esta animação é, de fato, bem dirigida, com os traços gráficos típicos dos outros filmes da Aardman, capazes de despertar o afeto e a nostalgia dos fãs de A Fuga das Galinhas e Wallace & Gromit - A Batalha dos Vegetais. Mas Piratas Pirados! deveria ser compreendido além de sua técnica, como um filme em si. O primeiro fator de análise é de ordem econômica e diz respeito à recepção do público: esta animação teve resultados fraquíssimos nos Estados Unidos, e vai precisar de um bom desempenho internacional para ao menos cobrir seus custos de produção.

    A concorrência com alguns blockbusters em cartaz pode ser uma primeira pista de explicação, mas ela é certamente insuficiente. É mais provável que a resposta fraca a esta produção venha do modelo convencional que ele adota: Piratas Pirados! é uma produção bela, com piadas simples e capazes de agradar às crianças, mas um tanto linear e monótona. Este é um raro título infantil contemporâneo que escapa aos traços marcantes dos seus concorrentes: ele não é pop e ágil como os filmes da Dreamworks (Shrek, Madagascar), nem moralista e demagógico como as animações da 20th Century Fox (A Era do Gelo), tampouco é complexo e sombrio como as últimas produções da Disney/Pixar (Wall-E, Toy Story 3).

    Resta a esta animação em stop motion um certo equilíbrio entre os elementos comuns de uma produção infantil: existe uma pequena mensagem de fraternidade (não se troca os amigos por dinheiro), discretas e raras cenas de ação, piadas comedidas aqui e ali, lições esparsas sobre biologia. Além disso, existem duas ou três citações a personagens que as crianças não conhecem (Jane Austin, O Homem Elefante), indicando que a produção não se esqueceu de agradar os adultos que, obviamente, acompanham as crianças ao cinema.

    Por um lado, a morna placidez do roteiro pode parecer um alívio diante da flatulência insistente de Shrek ou da milionésima cena em que Scratch persegue a mesma noz. Por outro lado, é uma pena que Piratas Pirados! não procure uma narração criativa, contentando-se em corresponder aos sorrisos e mensagens esperados de um filme do gênero. Infelizmente o filme consegue desenvolver uma estética admirável e singular, mas não faz o mesmo esforço para a história que, afinal, deveria ser a razão de existir destes simpáticos piratas animados.

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