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    Desejo e Obsessão
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    3,1
    7 notas
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    3 Críticas do usuário

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    Billy Joy
    Billy Joy

    1 seguidor 51 críticas Seguir usuário

    4,5
    Enviada em 29 de setembro de 2021
    Dentro da ideia concebida como o Novo Extremismo Francês, Desejo e Obsessão é um filme que possui esse tom frio e introspectivo do movimento, com personagens que pouco verbalizam suas intenções e vivem numa atmosfera melancólica. Contudo, o trabalho de Claire Denis aqui se destaca pela maneira como a diretora consegue articular uma atitude que denota um reconhecimento da inevitabilidade de certas tragédias, ao passo que desenvolve isso muito bem numa dialética que envolve um aspecto mais obsessivo da natureza humana.

    Chama a atenção como desde o início o filme insere alguns planos no meio de cenas, sem quaisquer indicações acerca da temporalidade, ou mesmo concretude, daquelas ações. São pequenos segmentos que já anunciam um fascínio pelo sangue, algo que se desenvolverá na progressão da narrativa, dando o tom dialético que Denis propõe: dentro de uma atmosfera melancólica, até reprimida, há uma purgação estilística no aspecto gráfico da violência.

    Entretanto, e isso é o que efetivamente diferencia a obra de um thriller extremista genérico, a diretora evita cair num radicalismo que busque apenas o choque imagético. Na verdade, a decupagem apresenta poucos planos abertos, que revelariam de modo mais claro os atos violentos. O filme se utiliza dessa decupagem mais livre como uma repercussão formal da violência irrefreável de seus personagens. Denis consegue violar regras sem soar fetichista, a ação frequentemente quebra o eixo de 180° da continuidade. Seja para reenquadrar os rostos dos personagens, seja para percorrer os corpos através de planos detalhe, esses recursos buscam muito mais a evocação de um envolvimento entorpecedor do que uma localização dos atos em si.

    Quando o quadro se abre, como no famoso plano da parede coberta de sangue, funciona muito mais como uma ilustração poética do resultado da purgação de um sentimento reprimido pelo filme. Até então, toda a perspectiva que tínhamos partia de planos fechados, numa decupagem que trabalhava na desorientação, resultado do transe de uma libido violenta. É nesse sentido que o enquadramento da parede se apresenta como a concretização, uma espécie de exposição da obra finalizada dessa artista da morte.

    Tais escolhas estilísticas poderiam muito bem situar Desejo e Obsessão no campo do experimental, mas há de fato uma progressão dramática que se desenvolve de modo mais centrado na trama. A tensão progride através do mistério, existe, desde o início, um sentimento de luta para o controle de obsessões, mas estas demoram a ser esclarecidas. Ao passo que, um sentimento de inevitabilidade, até fatalista, consegue manter-se presente.

    As cenas das mortes são grandes exemplos de como, através da decupagem deslocalizadora e afeita a detalhes, toques e sensações, o filme não articula exatamente como essas mortes são consumadas. Ao invés disso, existe uma espécie de entorpecimento mútuo, de agressor e vítima, que culmina em certa aceitação fatal por parte da última. Numa dialética que explora a violência, mas sem depender somente dela para envolver, com um fatalismo, porém sempre latente, Desejo e Obsessão torna-se um misto de thriller extremista com tragédia grega.
    giba
    giba

    4 críticas Seguir usuário

    5,0
    Enviada em 9 de fevereiro de 2012
    Conheci o filme casualmente por intermédio da trilha sonora - feita pelo grupo Tindersticks - que encontrei já em sebo antes mesmo da estréia do filme! Sorte minha, as fotos do encarte me mostravam a bela fotografia do filme prenunciando o terror e estranhamento do roteiro. Tudo me surpreendeu ainda mais pra melhor, e gostaria de reve-lo um dia novamente em tela grande. É belo, poético, assustador como poucas vezes se viu no cinema. Um filme na linha do "Deixa ela entrar" (2010). Para quem é fã deste genero é um prato cheio.
    Giuliano Rocha
    Giuliano Rocha

    1 seguidor 11 críticas Seguir usuário

    2,5
    Enviada em 9 de fevereiro de 2012
    Embora mais veterana, a diretora francesa Claire Denis tem um estilo de filmar que hoje pode ser comparado ao da argentina Lucrecia Martell (do engodo "O pântano" e do bom "Santa menina"): planos fechados, ritmo lento, economia de diálogos, roteiro por vezes descosturado. Além disso, utiliza com sobriedade um recurso narrativo que geralmente é relegado a um segundo plano no cinema comercial, o tempo, marcado por silêncios que pontuam a narrativa e preenchem as ações dos personagens, que assim compensam suas poucas falas. Num certo sentido, um tipo de "cinema de ação", só que ao modo francês. Sem pressa e com pleno domínio de sua técnica, Denis comanda cada um destes elementos com invejável segurança. E todos eles aparecem combinados de maneira arrebatadora no arrasador "Desejo e obsessão". Em Paris, o médico Leo Semenault (Alex Descas), especialista em pesquisas sobre o comportamento sexual, mantém enclausurada em sua casa a esposa, Cora (Beatrice Dalle, a Betty Blue), que sofre de uma estranha e rara doença e está fora de controle. Paralelamente, um amigo, o jovem médico americano Shane (Vincent Gallo) chega à cidade para sua lua-de-mel. Ele procura Leo para que este lhe auxilie no tratamento da mesma doença que o acomete. Tanto Shane quanto Cora gostam de atacar a dentadas seus parceiros durante o ato sexual, matando-os num ritual canibalístico, numa busca insana do paroxismo do prazer. Uma série de contratempos encaminha este estranho caso de amor rumo a um explosivo desfecho. É uma história trágica e tristíssima sobre a força do desejo e as pulsões que movem o ser humano a satisfazê-lo, ao mesmo tempo em que precisa controlá-lo ou mesmo abortá-lo em nome de uma suposta normalidade social, mesmo que isso o leve a estados mentais de desequilíbrio e abandono. Pois é o desejo, multiplicado pelo desespero, que arrasta o casal de canibais (Cora e Shane) aos limites de sua sanidade, confrontando-os com as convenções estabelecidas e expondo o sofrimento de ambos em sua inócua tentativa de controlar o que os mantêm vivos. A magnífica abertura do filme dá uma boa dica do que se verá a seguir. Após uma rápida transa clandestina dentro de um carro estacionado em uma estrada deserta, uma atônita Beatrice Dalle (cuja bocarra sensual nunca esteve tão bem aproveitada no cinema e tão adequada a um papel) caminha por um descampado, enquanto um corte de cena flagra o alvorecer em algum bairro residencial nos subúrbios de Paris, com os primeiros raios de sol refletidos no lago, linda imagem realçada pela primorosa fotografia e emoldurada por uma oportuna trilha sonora. Outra grande cena é a que reúne Cora e uma eventual conquista, um desocupado que invade sua casa, atraído por sua beleza, durante o ato sexual, e onde a bela deixa aflorar seus instintos canibalescos, atacando com todo seu incontrolável desejo o rosto de seu amante. A cena é mostrada na penumbra, mas a tudo se vê, a tudo se assiste, chocado com a crueza da imagem, extasiado com a intensidade de tanto desejo � e, por que não dizer, comovido diante da constatação do fim melancólico que fatalmente aguarda a protagonista. Não há concessões. A seqüência é coroada com uma performance de loucura de Cora, banhada de sangue, andando sem rumo pelo quarto coalhado de tinta vermelha escorrendo das paredes, na boca restos carnais do homem a quem amara até poucos minutos atrás. Assustador e arrebatador. O restante do elenco também está muito bem, com destaque para Vincent Gallo, bom ator que parece estar se especializando em papéis de personagens marginalizados. É ele o responsável pela cena final de canibalismo, fazendo explodir a tensão de que o filme se carregou até então. De certa forma, seu personagem funciona como uma espécie de contraponto dramático à Cora de Dalle. Enquanto esta foge de casa e luta para buscar o prazer à custa de um preço a ser pago por sua concretização, aquele trava dentro de si uma batalha feroz pelo controle de seus desejos. Neste sentido, o nome do personagem ganha em dimensão simbólica, sendo Shane o cowboy por excelência eternizado no faroeste "Os brutos também amam" (1953), de George Stevens, e cuja principal característica é a solidão que marca seu relacionamento com o mundo e com as pessoas com as quais se envolve. Não é por outro motivo que o Shane de Denis, embora se mostre sempre carinhoso e apaixonado pela jovem esposa, não consegue consumar a expressão física deste amor. Shane prefere se masturbar � em uma cena, ele se levanta no meio da noite e se tranca no banheiro enquanto do lado de fora a mulher ouve, chorando, os gemidos do marido em sua brincadeira onanista � a dar vazão a seus impulsos e desejos, ferindo assim o objeto de sua afeição. É a impossibilidade de viver este desejo, e de consumá-lo em sua totalidade, que atormenta Shane e o lança num exercício de desespero contido. A derradeira e sintomática fala da história é um desfecho mais do que adequado e que simboliza de forma compacta todos os desejos experimentados pelos personagens ao longo da narrativa. Uma obra-prima carregada de simbologias, simplesmente espetacular.
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