Pesquisar as referências de O Telefone Preto é um excelente exercício.
A mais óbvia é Stranger Things e, dessa forma, claro que a bicicleta dos garotos de ET não poderia ficar de fora.
Mas a lista é grande: a claustrofobia de Jogos Mortais, a caracterização do Sequestrador como as criaturas malignas de James Wan, o telefone de Por Um Fio, o rapto de crianças de It, o serial killer de O Silêncio dos Inocentes.
E pra criar uma conexão emocional forte com o público não poderia ser esquecida a profundidade psicológica dos personagens, um dos grandes trunfos do clássico O Exorcista, que também foi matéria-prima para outro filme de Scott Derickson: O Exorcismo de Emily Rose.
Acabou a lista? Não. O repertório que Derickson utiliza em O Telefone Preto inclui ainda O Massacre da Serra Elétrica (citado até nos diálogos do filme), a visão dramática sobre amizade e infância de Conta Comigo, as máscaras de Os Estranhos e os balões de Pennywise.
Aliás, o universo de Stephen King não é revisitado por acaso. O conto em que o filme é baseado é de Joe Hill, nada mais, nada menos, que filho do mestre do terror moderno.
Porém, mesmo com tanto elementos tirados de clássicos do terror psicológico e sobrenatural (e de um fenômeno pop como Stranger Things), O Telefone Preto consegue ser uma produção, no máximo, mediana.
O roteiro é irregular e cheio de buracos, o enredo é previsível, alguns diálogos são constrangedores e o Sequestrador entra e sai da trama sem que se saiba nada a respeito dele ou de suas motivações para o crime. A relação do vilão com o irmão também fica no limbo.
Talvez o filme tenha dois trunfos. Um deles são os atores.
A construção de Ethan Hawke para o personagem principal é irrepreensível. Hawke está assustador em cena, com sua mistura de Leatherface, Hannibal Lecter, Coringa e Pennywise.
A atuação de Madeleine McGraw como Gwen, a irmã sensitiva de Finney, também é fantástica e determinante para criar um vínculo emocional poderoso entre o filme e o público.
O segundo às na manga do filme foi o marketing pesadíssimo. A produção foi vendida de forma agressiva como um novo It, uma das adaptações mais icônicas de Stephen King para as telas.
A estratégia aparentemente deu certo, como mostra o sucesso de O Telefone Preto, maior bilheteria do gênero terror em 2022. O filme, no entanto, passa bem longe de uma obra definitiva como It, seja na versão de 1990, seja na de 2017.