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    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
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    À procura de algo

    por Barbara Demerov

    Se existe algo que estimula a reflexão em Suor é o fato de só vermos a protagonista Sylwia interagindo de forma muito mais interessada com desconhecidos ao vivo do que com seus seguidores através do celular. Existe uma drástica diferença entre as cenas em que a personagem rola sua timeline e lê elogios, sem demonstrar nenhum sentimento, e aquelas em que ouve ou observa com atenção uma pessoa que não faz parte de seu microcosmo.

    Ao se colocar de maneira tão próxima de Sylwia, o diretor Magnus von Horn garante uma percepção quase que imediata deste mundo tão sólido, e ao mesmo tempo intangível, habitado pelos grandes influenciadores digitais. Certamente esta é uma das maiores qualidades do longa, uma vez que é possível "pescar" desde o início que a musa fitness sueca não é tão feliz quanto aparenta nas telas do celular. E isso nos leva a um ponto muito relevante e discutido nos dias atuais: qual seria o ponto médio entre a perfeição exacerbada nas redes e a realidade coerente com o que o mundo espera de nós?

    Se a protagonista já possui a aprovação do público e ainda assim se sente vazia por dentro, é porque estamos diante de um problema muito maior. Sylwia, interpretada de maneira notável por Magdalena Kolesnik, é a personificação de milhares de figuras que todos nós já passamos os olhos ao menos uma vez nos últimos anos. Famosa, respeitada no meio esportivo e admirada por seus seguidores, a simpática protagonista emana uma energia positiva quando em grupo, mas é quando está sozinha em casa que Suor apresenta a dualidade da vida publica. As imagens que von Horn registra dentro do apartamento da jovem dizem muito por si só: mostram a solidão que ela enfrenta e o carinho que tem para dar, visto através de seu cachorro.

    Além disso, a aproximação que o espectador tem com Sylwia não a transforma em uma figura detestável ou fútil; pelo contrário, ela é tão vítima deste "sistema" tecnológico quanto aqueles que acreditam fielmente que a realidade apresentada por ela é a ideal. Se nem mesmo a jovem acredita que é relevante no Instagram (ela mesma chega a afirmar que seria esquecida rapidamente se deletasse sua conta), por que continuar? Por motivos óbvios, Sylwia continua do jeito que está porque ama treinar e se sentir visível por alguns momentos -- mas ela sabe que a origem de sua necessidade de carinho não vem da vontade em ser famosa. E o espectador compreende isso quando é introduzido em seu ambiente familiar.

    Quando a protagonista diz que trabalhar com esportes e redes sociais não é uma tarefa fácil, entende-se que ela é apaixonada pelo que faz. Ao mesmo tempo, é só quando ela se abre com uma estranha no shopping e ouve um relato (completamente fora de sua realidade) ou ajuda um stalker na rua que vem a resposta para toda a composição do filme: a verdade é que Sylwia é quem espera algo vindo do outro da tela, e não o contrário.

    Sua carência e falta de figuras mais amorosas em sua vida lhe deram impulso para criar a imagem imbatível nas redes, mas todo seu esforço e dedicação diários são postos à prova quando, numa aparente atitude "desequilibrada", expõe seus sentimentos na internet. O fato de sua instabilidade emocional chamar mais a atenção do que seu trabalho bem executado é outra crítica imposta em Suor: apesar de a internet olhar para qualquer direção que não seja a da realidade, é apenas ela que pode captar todos os olhares. A armadilha da hipocrisia (na qual Sylwia também cai) é a mesma que garante que este ciclo nada saudável continue.

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