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    Pai em Dobro
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Pai em Dobro

    Filme com cara de livro

    por Vitória Pratini

    A Netflix está investindo cada vez mais em produções nacionais de comédia, protagonizadas por atores populares que têm influência diretamente com o público infanto-juvenil. Larissa Manoela estrelou Modo AviãoGiovanna Lancellotti fez Ricos de Amor e, agora, Maisa Silva brilha em seu primeiro filme em parceria com a plataforma: Pai em Dobro.

    Trata-se também do primeiro projeto original da escritora Thalita Rebouças para o streaming, que nasceu como roteiro antes de virar livro. Enquanto a autora é uma referência na literatura, ainda não conseguiu se adequar ao padrão de cinema. O resultado é um longa-metragem alto astral, que aposta em cenas fofas e emotivas, porém com resoluções previsíveis e apressadas, e um enredo que funciona mais no meio literário do que cinematográfico. Parecendo uma mistura de Mamma Mia com Malhação, a produção traz um elenco estelar, e aposta numa temática bem brasileira, com carnaval e uma trilha sonora relaxante — que vai de Melim a Tiago Iorc e Ana Vitória.

    Maísa entrega protagonista consistente, mas precisa melhorar

    Maísa entrega uma protagonista consistente, com uma veia de comédia, mas sem muitas nuances. Aos poucos, a atriz está conseguindo se desapegar da imagem da infância — e da roleta do PlayStation do Bom Dia e Cia. A jovem está se reinventando, e hoje é até empresária, além de youtuber e apresentadora. Porém, no quesito atuação ainda tem alguns quilômetros para caminhar.

    Em Pai em Dobro, ela interpreta Vicenza, uma menina que mora em uma comunidade hippie com a mãe (Laila Zaid), mas não sabe quem é seu pai. Tal como a atriz, a personagem tem 18 anos, e todo aniversário pede para conhecer o patriarca. Aproveitando uma viagem da mãe, ela vai para o Rio de Janeiro em busca do pai biológico — e acaba encontrando dois. Vicenza resolve criar laços com ambos, sem contar que há "concorrentes". Ao mesmo tempo, se estabelece no bairro de Santa Tereza e ajuda um bloco de carnaval a acontecer.

    Resoluções fáceis e coadjuvantes desperdiçados

    Tudo parece fácil e corrido, não há conflito ou um antagonista para balancear a trama. A protagonista se entrega com muita facilidade e inconsequência nas situações, criando laços fáceis com todos os personagens que encontra. Por mais que seja justificável por causa do jeito "hippie" da menina — gerando piadas sobre os figurinos/”fantasias” que chegam a ser ofensivas — muita coisa segue inexplicada. Até mesmo quando a jovem está passando mal e é cuidada por Paco (Eduardo Moscovis), quando ele começa a pintar, ela “magicamente” melhora.

    Pai em Dobro é do ponto de vista de Vicenza, com Maísa 90% do tempo em tela. Isso sugere uma abordagem quase literária, inclusive com estranhas tomadas de câmera que simulam o olhar da personagem. No entanto, tal perspectiva não dá espaço para que os personagens coajuvantes sejam aprofundados. Alguns até mesmo não são nomeados. 

    A estética televisiva impera na produção, o que nem sempre funciona à favor das cenas, que perdem a naturalidade e transportam o espectador para fora do filme.

    Filme da Netflix tem bons atores 

    Os "pais" de Vicenza são interpretados por atores de peso. Eduardo Moscovis sai do estigma de galã e paizão e entra no papel de Paco, um homem solteiro, pintor, que nunca pensou em ter filhos. No primeiro momento, o ator parece um peixe fora d'água, tentando se adequar ao roteiro e forçar cenas de comédia pastelão. Porém, no meio do filme, ele acerta a medida "tiozão" que tenta se conectar com uma adolescente e brilha como o personagem. Destaque para a bela cena em que Maisa e Eduardo pintam juntos — com o detalhe de que os atores realmente colocaram a "mão na massa".

    Já Marcelo Médici parece mais confortável como Giovanni, o que torna a relação com Vicenza mais natural — ainda que a família do personagem tenha cenas exageradas e desnecessárias.

    O filme ainda tem participações especiais como Fafá de Belém, Thaynara OG e o carismático Roberto Bonfim. Outro destaque positivo é o jovem Pedro Ottoni, que está bem no papel de Cadu, apesar de ter que trabalhar um pouco mais no charme de galã.

    Apesar de um clímax previsível, Pai em Dobro apresenta uma mensagem inspiradora, que nos faz valorizar a família e que acalenta o coração. Além de trazer o sentimento do carnaval de raiz do Rio de Janeiro, para o qual tanto esperamos retornar no pós-pandemia. Ô abre alas que a Maísa chegou na Netflix.

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    Comentários

    • Ulysses Rocha Filho
      decepcionante. músicas que salvam Lulu Santos e Janeci. clichês antigos (inclusive a dúvida do final). parece que tomei um suco verde....
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