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    Abraço
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Abraço

    Exercícios de cidadania

    por Barbara Demerov

    A urgência de temas como a educação no Brasil e os direitos trabalhistas dos professores se mostra cada vez mais forte nos últimos anos. Dito isso, é importante, também, que o cinema, arte capaz de alcançar um público amplo, transponha a veracidade de fatos que são de alcance público, mas não se conectam com a realidade de todos. No caso do filme Abraço, aqui cabe ao cinema expor a luta a favor de dignidade profissional, abrir um espaço para diálogo e contar histórias que podem não parecer semelhantes às nossas num primeiro momento, mas acabam se conectando com a nossa existência puramente por conter humanidade.

    No entanto, a mesma urgência que se faz necessária para que boa parcela da sociedade saiba o que se passa no âmbito educacional é refletida de modo muito mais didático do que cinematográfico no longa do diretor DF Fiuza. De início, a escolha de se contar uma história que mexe com uma das profissões mais importantes dentro da sociedade em modo ficcional surpreende, não só pelo fato da situação ainda ser recente e da luta por direitos estar longe de acabar, mas também pela história não se encaixar enquanto ficção, impossibilitando maior alcance e efetividade enquanto cinema.

    Tal abordagem não tira a potência da história a ser contada, mas ao mesmo tempo não a impulsiona para inseri-la em outro patamar. O ritmo de Abraço se mantém sempre o mesmo, educativo e instrutivo demais - por mais que o elenco possua atores que conseguem dinamizar a narrativa a ponto de se tornar um pouco menos educativa. É o caso de Flavio Bauraqui e Giuliana Maria, sendo que a atriz se torna o fio condutor do filme no sentido ficcional. É ela quem representa a classe de professores que segue na luta para garantir que não sejam cortados os cargos dos docentes, e a presença satisfatória de Maria enquanto em tela auxilia ainda mais a empatia para o grupo. No entanto, o roteiro nunca foge de seu tom pedagógico, incluindo nas diversas cenas em que os atores explicam calmamente aos professores (e a nós, espectadores) o que cada passo do Governo do Estado do Sergipe representa.

    Por ser uma ficção baseada em fatos contemporâneos, é inevitável que algumas características documentais permeiem o longa. Assim como na sequência próximo ao final em que são inseridas imagens reais dos professores à época do julgamento, o próprio fato de que há diversos professores da vida real sendo apresentados como personagens da trama ao lado de Maria e Bauraqui entrega um balanceamento de estilos. Por isso, o filme tarda a encontrar sua originalidade por não ousar em sair do trivial (tanto em estrutura quanto em diálogos e situações), apesar do ponto de vista, feito através da personagem de Maria, estar bem delineado.

    Abraço ainda insere, na trama da personagem Ana Rosa (Maria), uma questão duvidosa se colocada na esfera atual: Como sua própria família poderia ser tão contra uma profissão que é cada vez mais vista como essencial pela sociedade, e é duramente atacada por membros do governo? O conflito que o roteiro através de uma relação entre Ana Rosa e sua mãe é válido em termos narrativos, mas não convence quando traçamos uma linha do ficcional para o real. Já que o filme aborda um assunto como este, a questão teria de ser contrária, trazendo mais do impacto negativo dos políticos e membros do julgamento, e mais apoio de quem também vê os obstáculos que os professores passam. Assim como é na vida real.

    Filme visto no 23º Cine PE, em julho de 2019.

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