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    Minha Irmã
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Minha Irmã

    Sobre a inspiração que o afeto traz

    por Barbara Demerov

    Quantos filmes já não assistimos sobre personagens com câncer e tudo o que a doença acarreta? Que apresentam as mudanças que acontecem nas relações interpessoais - às vezes para melhor, às vezes para completo distanciamento. Que expõem as visões de mundo (seja do enfermo ou dos companheiros) se transformando aos poucos, deixando uma lição para a vida de quem ficou. São dezenas de filmes, mas alguns têm um brilho mais forte. Schwesterlein (My Little Sister, em inglês) brilha graças à sua dupla principal.

    Como o título indica, o carinho entre irmãos é o mote da trama. Mas não só isso. Sven (Lars Eidinger) tem câncer e não só a doença voltou a piorar como sua irmã Lisa (Nina Hoss) achava que tudo ia melhorar ao doar sua medula óssea ao gêmeo. Portanto, My Little Sister não é uma carta convencional ao amor que só irmãos podem sentir. A sintonia e parceria entre Sven e Lisa é admirável, mas o filme se apoia mais nas dificuldades enfrentadas pelos dois (e pela família toda também) do que na ligação.

    Tal abordagem pode dificultar um pouco a afinidade entre espectador e personagens, mas a excelente atuação de Nina Hoss carrega o filme da mesma maneira que carrega o irmão. Apesar dela ser a irmã do título, não é como se a história cedesse o ponto de vista ao irmão para, assim, se tornar uma espécie de mensagem com dedicatória. Na verdade, o olhar que sempre prevalece é o de Lisa: desde o primeiro momento em que separa os remédios do irmão para buscá-lo no hospital até quando lê sua nova peça de teatro a ele, o espectador sente tudo através de sua presença.

    Por alguns momentos, a doença de Sven fica em segundo plano, uma vez que a vida de Lisa vira de cabeça para baixo quando se vê brigando com o marido por ele não querer retornar à Berlim, cidade onde a protagonista tem mais chances de trabalho. Há cenas típicas que explicitam a falta de diálogo entre marido e mulher, assim como a dificuldade de Martin (Jean Albinus) em entender que Lisa não tem futuro na gelada Suíça.

    Em partes, o câncer de Sven vem para abrir os olhos da irmã. Se por um lado ela cuida do irmão como se fosse uma mãe e resiste até o fim em concordar que não há mais volta, por outro ela passa a agir de formas diferentes, passando parte desta resistência a âmbitos de sua vida que, em outro caso, nem contestaria a Martin. Desta forma, My Little Sister não deve apenas ser resumido como um filme "sobre câncer". Acima de qualquer característica, fala sobre como adversidades podem nos impulsionar para frente, e como conseguimos arranjar inspiração até no mais nebuloso dos casos. 

    Filme visto no 70º Festival Internacional de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2020.

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