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    Madonna + The Breakfast Club
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Madonna + The Breakfast Club

    Sob outras perspectivas

    por Barbara Demerov

    Quando focado em uma personagem conhecida mas sem possuir suas próprias entrevistas para compor a narrativa, um documentário inevitavelmente já soa um tanto duvidoso. Afinal, quem melhor do que a própria pessoa para contar sua história de vida e, no caso deste filme, de carreira? Como o título já indica, Madonna + The Breakfast Club de fato aborda uma parcela da vida de Madonna a partir do momento em que ela se consagra como artista pop, mas tudo isso é narrado e debatido a partir dos inúmeros pontos de vista de seus colegas da banda Breakfast Club, a qual fez parte no início de carreira. Sendo assim, a existência deste documentário já é um pouco complexa desde o princípio, pois apesar da obra se esforçar para entregar o máximo de fatos, todos eles se misturam com personagens e opiniões muito desiguais, impossibilitando um propósito mais delineado.

    Por se tratar muito mais sobre a banda do que de Madonna em si, por vezes a narrativa se perde entre dar mais atenção aos companheiros musicais da artista do que da própria protagonista. Na verdade, o "protagonismo" aqui é coletivo, especialmente com a história de Madonna ser utilizada como principal artifício para inserir, também, a trajetória dos integrantes da Breakfast Club. Por isso, raramente é encontrado um equilíbrio nos depoimentos cedidos pelos homens que acompanharam Madonna no início de sua carreira, pois o foco recai bastante nos detalhes daqueles tempos (fim dos anos 70) em Nova York. Da sinagoga abandonada em que os membros viviam e compunham suas músicas até ao relacionamento de Madonna com Dan Gilroy (que lhe ajudou a aprender a tocar instrumentos musicais), o filme se mantém interessante enquanto obra de origem, mas decai ao se tornar mais um desabafo dos ex-parceiros do que um documentário completo.

    Além da inserção em demasia de depoimentos com mágoas sobre o passado, Madonna + The Breakfast Club também perde muito seu teor informativo ao inserir trechos ficcionais, que contam com a atuação de Jamie Auld, sósia de Madonna. Como há pouquíssimos excertos da época - seja com músicas, fitas de áudio ou vídeos -, a solução que o diretor Guy Guido pode encontrar foi a de preencher as lacunas entre as entrevistas e os momentos reais da vida da artista com a ficcionalização de passagens nos anos 70 e 80, e, ao que indicam, aconteceram da forma como os entrevistados dizem. O problema é que as atuações dos atores selecionados não soam verdadeiras e enfraquecem até mesmo os depoimentos que antecedem e sucedem as caracterizações. O único ponto positivo é o cuidado nos detalhes visuais (especialmente no figurino) que compõem as cenas em que Auld atua como Madonna.

    Com a junção dos pontos citados, a linguagem utilizada em Madonna + The Breakfast Club resulta numa falta de clareza com o que deseja ser abordado. As dificuldades e a ascensão de Madonna, as feridas no passado dos ex-integrantes da banda e o relacionamento amoroso com Gilroy... Tudo é a colocado na mesma balança e a mistura de todas essas circunstâncias não conversam muito entre si pois falta um único depoimento: o principal. O simples fato de todos as situações narradas terem acontecido na mesma época não cria uma ligação forte, afinal, o que vemos não é a perspectiva pessoal de Madonna - é a perspectiva pessoal de todos os entrevistados, de Gilroy ao DJ que se recusou a tocar o primeiro single da cantora.

    Sem dúvida, é muito interessante conhecer a carreira de alguém através de olhares que acompanharam a pessoa desde o dia 1. No documentário, ao menos conseguimos ter vislumbres deste primeiro dia de reconhecimento como artista quando Ed Gilroy relembra o momento em que Madonna cantou uma música de sua autoria pela primeira vez na sinagoga, local em que tudo começou. Breves momentos do documentário, tais como este, são capazes de entregar fragmentos de uma história individual que marcou tanto outras vidas de modo pessoal, mas a dissonância dos tons em que as palavras são ditas (umas com carinho, outras com descontentamento) tornam os personagens selecionados não tão confiáveis.

    Não que a índole de Madonna seja debatida a todo o momento, mas há passagens que demonstram certo egoísmo da artista e também a falta de clareza diante dos depoimentos. Mais uma prova de que sua presença era necessária e deveria ir além dos breves trechos de seus clipes ou entrevistas. A voz da artista de fato é ouvida em Madonna + The Breakfast Club, mas não da forma mais justa.

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