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    Querido Ex
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Querido Ex

    O namorado do meu pai

    por Bruno Carmelo

    Esta comédia dramática taiwanesa se abre como o típico feel good movie voltado ao público adolescente. As imagens estão repletas de animações sobrepostas; um narrador divertido, o jovem Song Chengxi (Joseph Huang), apresenta cada personagem com um comentário sarcástico; a trilha aposta em variações do pop independente. Não estamos muito distantes de A Culpa é das EstrelasExtraordinário ou outros projetos que buscam fazer o espectador rir e chorar em igual medida através de uma história que contenha, invariavelmente, a morte de um ente querido e dilemas familiares no confronto de gerações.

    Os diretores Chih-Yen HsuMag Hsu carregam as tintas no humor, especialmente ao abordar a mãe do adolescente, a enérgica Liu Sanlian (Hsieh Ying-Xuan), e o namorado do pai (Roy Chiu), por quem ele abandona o lar após assumir sua homossexualidade. A primeira é uma mulher histérica, que se comunica por gritos, choros, chantagens e objetos atirados pela sala. O segundo é igualmente extrovertido, mas numa versão bagunceira, inconsequente e grosseira. Ambos correspondem a caricaturas sociais precisas (a mulher possessiva e mal amada, o gay superficial e irresponsável), que servem de contraposição ao temperamento introvertido do jovem protagonista. Enquanto os adultos representam o caos, Changxi prefere uma resistência silenciosa, implosiva.

    As escolhas estéticas se destinam a acentuar os traços cômicos: não basta que um apartamento esteja sujo, ele precisa ser inabitável; não basta que as cenas com a mãe sejam barulhentas, elas precisam estar sobrepostas de ruídos, trilha, animação. Em busca de um público amplo, os diretores simplificam os conflitos e os personagens, dizendo ao espectador quem amar e quem odiar, quando rir e quando chorar. A linguagem é redundante: a trilha alegre repercute os momentos felizes, a iluminação sombria ocupa as cenas tristes. Não há nada de errado nesta configuração que soa, no entanto, simples demais, desprovida de ambições de linguagem. Apresentando-se como projeto de reconforto, Querido Ex desenvolve conflitos de aparência insuperável, apenas para superá-los de modo abrupto no fim, garantindo a felicidade a todos os envolvidos.

    Curiosamente, um dos pontos mais importantes para a estrutura do filme é abandonado rumo à metade: o ponto de vista do adolescente. Encarregado de introduzir os conflitos e dar o pontapé na trama, o garoto é praticamente esquecido no trecho central, quando flashbacks tratam de esclarecer os afetos entre a esposa e o marido, e posteriormente entre o homem divorciado e seu namorado. O roteiro privilegia as passagens obrigatórias do ritual amoroso: o encontro, os primeiros olhares, o primeiro beijo, os primeiros conflitos, e a inevitável ruptura. A câmera se aproxima dos rostos nos momentos dramáticos, para reforçar as lágrimas, e abre os enquadramentos na comédia, para captar o humor dos corpos desengonçados.

    Ao fim da sessão, alguns espectadores riam dentro da sala, outros soluçavam com a chegada do desfecho esperado. Se não proviesse de Taiwan, país pouco frequente no circuito comercial brasileiro, Querido Ex teria uma verdadeira chance de conquistar nosso público médio através do progressismo brando, do tipo que brinca com todas as tribos sem ofender ninguém. Este é um filme de boas vontades, do triunfo do amor sobre o ódio, da crença de que os problemas, mais cedo ou mais tarde, acabam por se arranjar. Trata-se de um ponto de vista tão otimista quanto ingênuo, espécie de escapismo que pretende cativar pela leveza.

    Filme visto na 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em outubro de 2018.

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