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    Eva + Candela
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    Eva + Candela

    Amor é sofrimento

    por Bruno Carmelo

    Talvez o amor romântico já tenha causado tantos danos à psique humana quanto ao cinema. Mesmo que a noção do amor perfeito não encontre equivalência em relacionamentos reais, ela responde por uma parte considerável do imaginário cinematográfico sobre a afetividade, com sua idealização da paixão à primeira vista, da alternância catártica de risos e choros, orgasmos e brigas. Este cinema amoroso tende a suprimir as falhas do mundo real, propondo reconforto numa utopia que, por definição, jamais poderia acontecer.

    As novas vítimas deste modelo são Eva (Silvia Varón) e Candela (Alejandra Lara), uma atriz e uma diretora de cinema, respectivamente. A troca de olhares inicial demonstra o interesse mútuo. No primeiro encontro, parecem adivinhar os gostos uma da outra. O beijo é intenso, o sexo é incrível e frequente; a parceria de ambas nos projetos artísticos se revela frutífera. Mas como a felicidade geral não produz conflitos, e portanto não recheia um filme, a cineasta Ruth Caudeli trata de destruir o relacionamento. Num simples corte da montagem, o casal não se entende mais, briga sobre o trabalho excessivo de uma, sobre as compras que outra esqueceu de fazer no supermercado. O sexo acabou, e os sorrisos, também.

    Para Caudeli, a pergunta mais importante parece ser “O amor resistirá à prova do tempo?”, mas para o espectador, talvez a questão maior seja “Como raios elas passaram do céu ao inferno abruptamente, sem meios termos?”. Eva + Candela tem dificuldade de trabalhar com elipses, algo fundamental a uma trama que atravessa vários anos. Não acompanhamos transformações graduais, apenas grandes momentos de catarse. A edição alterna sequências idílicas de beijos e outras de choros e brigas. Se o tempo é o principal responsável pelo desgaste, ele não é percebido nesta listagem de pontos altos e baixos.

    A sucessão de reviravoltas se mostra inverossímil: uma ex-namorada de Candela que mora na Espanha cruza com a protagonista nas ruas colombianas duas vezes, ao acaso, enquanto Eva é surpreendida pelo flerte de um diretor de cinema após se mostrar ciente do comportamento dele. Cada metade do casal possui uma coadjuvante-ouvido, tipo desprovido de complexidade, servindo apenas de interlocutora às lamúrias de cada uma: Eva recorre à mãe; Candela conversa com a irmã. Não bastasse a estrutura convencional do roteiro, a trama ainda recorre à mecânica clássica em estilo Nasce uma Estrela: a carreira de Eva decola, enquanto a de Candela definha. Temos que acreditar no que dizem sobre a fama repentina da atriz ou as críticas negativas aos projetos da diretora, porque nenhum destes elementos é visto em imagens.

    As atrizes são esforçadas, e suas cenas de sexo transparecem a tentativa de ultrapassar a candura excessiva do cinema comercial. No entanto, o elenco perde qualquer nuance nas brigas - especialmente a última - e tende ao novelesco. Além disso, a fotografia lavada, os diálogos com aparência de dublagem e a confusa montagem não-linear contribuem pouco à harmonia do projeto. Eva + Candela combina uma concepção irrealista dos relacionamentos com uma representação irrealista da imagem. O resultado se destaca menos por suas qualidades do que pelo decalque em relação a um relacionamento amoroso verossímil.

    Filme visto no 26º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade, em novembro de 2018.

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