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    Socorro, Virei uma Garota!
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    Socorro, Virei uma Garota!

    Olhar masculino

    por Francisco Russo

    Já pelo título, pode-se perceber muito claramente o intuito de Socorro, Virei uma Garota!: por mais que busque uma identificação popular, ao mesmo tempo escancara um pânico em torno do que é ser mulher. Até é compreensível - e parcialmente atenuante - que seja esta a visão de um adolescente nerd ao subitamente se ver em um corpo do sexo oposto, caso esta ideia base servisse como jornada de aprendizado em relação ao diferente. Não é o que acontece.

    O enorme problema deste longa-metragem é o tom dedicado por seu roteirista, Paulo Cursino. Se a escolha por um olhar masculinizado é até mesmo óbvia devido ao contexto da narrativa, quando um adolescente se vê transformado na garota mais popular do colégio após fazer um pedido a uma estrela cadente, isto não justifica a presença de vários diálogos e situações que reduzem as mulheres ao estigma da beleza acima da inteligência ou mesmo da falta de capacidade em fazer algo além de ir ao shopping ou festas. Falta sensibilidade ao roteiro em entender e reproduzir o universo feminino, no sentido de promover uma transição entre o estereótipo e a vida real que tão bem ajudaria o filme no sentido de desenvolvimento do personagem principal. Uma vista ao ótimo Fora de Série, dirigido por Olivia Wilde e roteirizado apenas por mulheres, faria muito bem.

    Diante de tal problema conceitual, o filme explora o humor rasteiro com inúmeras piadas tolas e sexualizadas que exalam o machismo intrínseco dos personagens, travestido por sua ingenuidade ou mesmo carisma. Soma-se a isto o tom exagerado adotado por Victor Lamoglia como o adolescente Júlio e mesmo a esquizofrênica trilha sonora de Zé Ricardo, que alterna de forma brusca os mais variados (e contrastantes) tons melódicos, sem que haja alguma transição. Assim como seu título, Socorro, Virei uma Garota! deseja ser urgente no que apresenta, enumerando clichês em uma tentativa de retratar um panorama mais amplo sobre o castigo que é um homem viver momentaneamente no corpo de uma mulher. Simples assim.

    Felizmente, após um preâmbulo desastroso surge o respiro que é Thati Lopes. Talentosa, a atriz se destaca ao encampar o típico gestual masculino e, aos poucos, migrar para uma variação mais feminina. É ela quem consegue atenuar os muitos problemas existentes nas entrelinhas, navegando com habilidade entre os interesses de ambos os gêneros. Ainda em relação ao elenco, vale destacar a boa presença de Leo Bahia, por mais que seu personagem não saia do estereótipo do gordinho adolescente com problemas de sociabilidade no colégio - caso claro em que o ator é melhor que o roteiro. Já Lippy Adler permanece preso ao mesmo personagem de O Último Virgem, não por acaso de mesma temática.

    Seguindo o padrão de comédia popular assinada por Roberto Santucci - não por acaso, diretor artístico desta produção -, Socorro, Virei uma Garota! mergulha nos ícones da comédia adolescente com hormônios a flor da pele para reprisar o batido tema da troca de corpos, tantas vezes já visto no cinema - inclusive no brasileiro, vide Se Eu Fosse Você. Histriônico por natureza, o filme até tem algumas (poucas) boas ideias em torno da mentalidade masculina acerca do universo feminino - sobre roupas, por exemplo -, mas jamais consegue se desgarrar deste ranço intrinseco em não olhar para elas com a mesma desenvoltura. Diante disto, resta pouco além de Thati Lopes para comemorar.

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    Comentários

    • Marcelo
      Lavagem cerebral feminista.
    • Edmilson De Andrade Silva
      ótima crítica
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