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    Pedro e Inês, o Amor Não Descansa
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Pedro e Inês, o Amor Não Descansa

    Baile à fantasia

    por Bruno Carmelo

    “Não tenho passado nem futuro, apenas presente, presente, presente, e tudo se confunde dentro de mim”. Os versos evocados por Pedro funcionam como chave de leitura para este ambicioso filme, que parte da história de Portugal para imaginar o amor entre Dom Pedro I e Inês de Castro em diferentes épocas, que vão do século XIV ao século XXI. Em todas as tramas, existe um Pedro (Diogo Amaral) e a amante Inês (Joana de Verona), além da esposa Constança (Vera Colodzig). Os atores são os mesmos, e os principais elementos históricos se mantêm (a pressão do pai pelo fim da união entre Pedro e Inês, o fim trágico dela), mas todo o resto muda. Em outras palavras, o mundo se transforma, mas os amores são eternos.

    O diretor Antonio Ferreira parte de um terreno extremamente codificado: o melodrama histórico, com direito a encontros mágicos, separações trágicas, gravidez escondida e traições surpreendentes. A premissa é movida pela emoção ao invés da razão – não por acaso, nosso protagonista enlouquece no futuro, narrando suas diferentes vidas de dentro de um hospital psiquiátrico. A consciência de Pedro em relação às vidas passadas, tratadas como simultâneas, transforma o filme ao mesmo tempo num drama e numa fantasia, ou ainda num projeto histórico e numa ficção científica. Este é um “amor sem tempo nem espaço, materializado na História”, como o protagonista mesmo afirma.

    A escolha por uma abordagem tão singular traz consequências fortes ao projeto, em especial pelo tom artificial. A reconstituição de época é feita com uma captação digital lisa, de alta qualidade, muito diferente da textura de uma representação do século XIV, enquanto os figurinos, penteados e acessórios transparecem sua contemporaneidade. A trilha sonora mistura músicas tipicamente medievais com toques eletrônicos, já a imagem combina enquadramentos estéticos com zooms agressivos, incomuns nos filmes de hoje. O diretor insere fatos na fantasia, mesclando a seriedade das interpretações com situações que beiram o cômico, a exemplo da tripla vingança de Constança contra Inês através do tempo. O teor brega próprio ao amor romântico é acentuado neste caso pela linguagem kitsch.

    Ferreira bagunça suas cartas numa montagem dispersa, em que cada uma das quatro linhas temporais possui um desenvolvimento único, um passado, presente e futuro próprios, gerando uma confusão voluntária, ainda que cansativa. Diogo Amaral e Joana de Verona se esforçam para soar verossímeis, mas não trazem diferença substancial nas encenações de cada século. As três (ou quatro?) versões de Pedro e Inês divergem sobretudo pelos figurinos/fantasias, pelos cortes de cabelo de cada linha temporal. Não demora para o espectador perceber que cada núcleo se reencena em embalagem nova – o que pode levar o público à exaustão durante mais de duas horas de projeção.

    Mesmo assim, na fronteira entre o ridículo e o assertivo, o cineasta confia em cada uma de suas escolhas. Ferreira tem coragem suficiente para apostar em elementos cafonas com seriedade, sem se amparar no distanciamento típico do humor. O resultado pode ser considerado genial ou patético, dependendo do ponto de vista. De qualquer modo, está longe de passar despercebido. Entre tantos retratos de amor eterno, tantas versões de Inês de Castro ou Dom Pedro no cinema e nas artes, este filme encontra uma maneira única de representar a História – para o bem ou para o mal.

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    Comentários

    • Ric
      Um saco!
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