Quem entendeu o filme como sendo apenas um retrato da realidade dos vícios, não percebeu nem a metade da complexidade dessa obra-prima.
O roteiro, desde o início, passando pela sua condução primorosa e seu desfecho absolutamente espetacular e chocante, não se reduzem a isso.
Não foi abordada somente a temática das drogas e suas consequências etc... mas sim várias nuances de nossa natureza, do meio social em que estamos inseridos, as conexões do ser humano com si mesmo e com as angústias e pressões exercidas por aspirações, notadamente impostas por um arquétipo de modo de vida que nos escraviza de várias formas.
É uma obra que aborda muitas questões que, em suma, refletem a nossa atmosfera, a nossa realidade.
A vida é dura, é cruel, é insana.
As nossas emoções e atitudes são muitas vezes paradoxais.
Por vezes escolhemos um caminho e o trilhamos, conscientemente. Já em outras situações, somos levados por ímpetos externos, sem perceber, tendo a certeza de que a escolha é só nossa, mas não é.
É um filme denso, complexo e espetacular, tanto sob o aspecto da filosofia moral, da pragmática social, das causas e consequências de nossas atitudes, que, muitas vezes, se invertem.
Entretanto, mesmo para aqueles que só conseguiram enxergar a ótica das compulsões e seus vereditos e estigmas, também serve como uma reflexão, ainda que reducionista.
É um filme inspirador, com tudo o que representa, de complexo, de chocante e de intenso.