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    Charlotte Quer se Divertir
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Charlotte Quer se Divertir

    O banquete

    por Taiani Mendes

    Adolescentes costumam estrelar três tipos de filmes: primeiro amor, comédia sexual masculina e amizade/rivalidade feminina. Meninas também transam, homens trocam confidências e o amor às vezes precisa ser colocado no fim da lista de prioridades, é o que conta Charlotte Quer se Divertir, comédia canadense dirigida por Sophie Lorain e escrita por Catherine Léger. Desolada quando seu primeiro e único namoro é finalizado com o rapaz assumindo-se gay, Charlotte (Marguerite Bouchard) é incentivada pelas amigas a superar a fossa com sexo casual e encontra uma bela fonte de potenciais parceiros numa loja de brinquedos. O fato dela entrar de cabeça na recomendada libertação sexual, no entanto, faz com que os rapazes descolados e cativantes sejam desmascarados como membros de um típico “clube do bolinha” e as próprias garotas revelem-se nada feministas.

    Tudo é tão bobo e fugaz quanto verossímil logo de início: a experiência ruim com o namorado, o desespero desmedido do coração partido, a fuga da polícia ao ser flagrada urinando na rua, a candidatura ao emprego só por causa dos meninos bonitos. Charlotte Quer se Divertir já começa em alta voltagem com ininterruptos assuntos e questionamentos do trio feminino principal e assim segue ao longo de seus 90 minutos bastante falados.

    Amor e sexo têm várias matizes, e para narrar as aventuras e descobertas da turma em tais matérias a fotografia de Alexis Durand-Brault é toda em brilhante preto e branco que uniformiza os tão diversos jovens. Colocando a câmera no lugar de espelhos e investindo em profundidade de campo bem curta - especialmente na fase romântica fora de moda da protagonista -, o longa exibe uma preocupação estética incomum em produções do gênero e uma memorável sequência embalada pela ária "L'amour est un oiseau rebelle” (Habanera), na voz da notória perdidamente apaixonada Maria Callas.

    Os arquetípicos personagens seguem trajetórias bastante previsíveis, o que não tira a graça de uma trama que investiga com destreza as investidas vacilantes dos jovens pelas trilhas da desconstrução e superação de velhas ideias, fraquejando em preconceitos, chavões, meias verdades e hipocrisias, porém por fim engajados na evolução do relacionamento entre homens e mulheres, mas sem perder de vista o ideal de romance à moda antiga. Dava para ir bem mais longe, no entanto considerando o breve período de interação da galera é aceitável o resultado.

    Sororidade, feminismo e a propensão à DR do casal principal transformam essa guerra dos sexos juvenil numa rara comédia romântica adolescente interessada em debates contemporâneos - e não só. É como se uma versão feminina de Aaron Sorkin roteirizasse e Philippe Garrel dirigisse um episódio especial de Malhação dedicado ao amor masculino e ao sexo feminino no século XXI, totalmente livre de adultos e em defesa de uma geração de pessoas melhores, pois adeptas da diversão e inconformistas.

    Filme visto na 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em outubro de 2018.

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