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    Berlin Alexanderplatz
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Berlin Alexanderplatz

    Jornada convencional

    por Barbara Demerov

    Histórias como a de Berlin Alexanderplatz ganham seu valor devido ao tratamento que dão a seus protagonistas. No caso do filme de Burhan Qurbani, o imigrante Francis (Welket Bungué) tem sua trajetória delineada de forma muito clara, assim como seus desejos e receios. Apesar de possuir clichês que envolvem ação e romance e expandir a narrativa de modo que a torne mais frágil do que poderosa, o filme mantém a mensagem concisa que quer passar.

    Transitando entre as rotas do poder, desvirtuamento e recomeços, a jornada de Francis (ou Franz) é pautada pela sede de poder - por mais que ele não direcione sua vontade de entrar no comércio das drogas a isso no início. Quando conhece Reinhold (Albrecht Schuch), um portal de possibilidades que têm o potencial de arruinar as boas intenções de Franz se abre, mas o protagonista nega a encarar os crimes que comete ou a má influência até quando isso se torna impossível.

    O principal elemento que torna Berlin Alexanderplatz uma experiência sem muitos elementos surpresa é a adição da personagem Mieze (Jella Haase), interesse amoroso de Franz e, ao mesmo tempo, a personagem que narra toda a história e provoca o andamento da mesma. Com suas palavras dividindo os atos, fica bastante claro que ela procura de toda forma justificar as ações do amado, repetindo que ele é um homem bom e que irá se encontrar novamente dali a pouco.

    Não que a personalidade de Franz seja igual à de Reinhold - um sádico que provoca o protagonista até o limite -, mas as palavras de Mieze não ornam com as ações que executa. Apesar de serem, de certa forma, justificáveis (afinal, Franz sobreviveu ao escapar da África rumo a uma nova vida), com a progressão da história é possível observar uma mudança importante. Não de caráter, mas em seu olhar. Apesar de estar apaixonado por Mieze e ambos estarem esperando por um filho, Franz dá mais atenção ao que Reinhold faz ou fala.

    Em determinada cena, próximo ao clímax do filme, Mieze é agredida ao tentar explicar que Reinhold não é a pessoa que Franz acredita que ele seja. A cena é rápida e logo tudo é resolvido, mas o que fica registrado no comportamento é a facilidade do roteiro em "brincar" com a personagem de Haase, que apesar de estar muito bem no papel, não é aprofundada de maneira mais respeitável. Ela se resume apenas à mulher do protagonista, à pobre futura mãe que sofre nas mãos de um homem que permanece cego pelas propostas de um futuro sujo.

    Em seu exterior, Berlin Alexanderplatz brilha com suas cores vibrantes, uma fotografia caprichosa e um elenco que se encontra em perfeita sintonia - com destaque para o vilão de Schuch, que se sobressai com seus trejeitos bem particulares e um olhar que sempre confunde o espectador (e o próprio protagonista). Contudo, seu conteúdo narrativo não se difere da já conhecida história sobre um herói que é testado a todo o momento e percorre caminhos tortuosos e sombrios para, de uma maneira ou de outra, encontrar sua luz.

    Filme visto no 70º Festival Internacional de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2020.

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