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    Tal Pai, Tal Filha
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Tal Pai, Tal Filha

    Na contramão

    por Francisco Russo

    O cinema hollywoodiano é cíclico, privilegiando temáticas e gêneros de acordo com a repercussão junto ao público. Um sucesso do porte de O Sexto Sentido, por exemplo, resultou em um sem número de suspenses paranormais, todos tentando surfar a mesma onda. No ramo da comédia, já há alguns anos o reinado pertence ao humor sacana, recheado de piadas politicamente incorretas e de duplo sentido - não por acaso, as comédias românticas desapareceram do mapa. Diante deste cenário, Tal Pai, Tal Filha surpreende nem tanto pelo que entrega, mas justamente por remar contra a maré. Trata-se de uma comédia dramática absolutamente corriqueira e bem executada, como tantas feitas até poucos anos atrás. E diverte.

    Muito graças ao carisma de sua protagonista, Kristen Bell, aqui interpretando uma workaholic que não consegue largar o emprego por nada. Sempre com o celular em punho, ela não se distancia sequer para a própria cerimônia de casamento, o que faz com que seu pretendente a abandone no altar. Deprimida e desolada, ela reencontra o pai (Kelsey Grammer, correto) que não vê desde os cinco anos de idade e, após uma bebedeira, decide embarcar com ele no cruzeiro de sua sonhada lua de mel.

    É claro que o filme passa pela óbvia situação de pai e filha confundidos como um casal, por maior que seja a diferença de idade entre eles. Entretanto, não é bem este o enfoque desejado pela diretora e roteirista Lauren Miller Rogen: aqui, o objetivo é apresentar uma história agridoce de reencontro, com ecos acerca do necessário equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Tudo sem pressa, dando espaço e preciosos minutos para que seus atores desenvolvam a essencial dinâmica entre eles. Ou seja, tudo que não tem sido feito no cinemão comercial ultimamente, cada vez mais adepto das piadas rápidas e da edição frenética.

    Diante de tal proposta, a diretora também acerta a mão na seleção dos coadjuvantes: ecléticos e fugindo do histrionismo típico, eles instigam os personagens principais sem jamais subjulgá-los ou levá-los ao ridículo. A jornada em pleno cruzeiro funciona muito mais como terapia familiar, pontuada por belíssimas paisagens do Caribe e do próprio navio, entremeada por boas dinâmicas entre pai e filha a bordo da embacação - que, é claro, exploram também o talento vocal de Kristen Bell.

    Sem inventar a roda, Lauren Rogen retoma em Tal Pai, Tal Filha a tradição de um cinema leve que valoriza mais o relacionamento e as atuações do que piadas escrachadas com temas da moda. Curiosamente, ou talvez por isso, este alienígena na produção contemporânea passou longe das telas de cinema, tendo sido encomendado diretamente para o streaming da Netflix, ambiente propício para "ousadias" que buscam todo tipo de público.

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