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    Mário
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Mário

    Enfrentando bloqueios fora de campo

    por Barbara Demerov

    A homofobia que cerca o cenário do esporte profissional, sobretudo o futebol, é o coração do filme Mario. Sob as vivências do jovem que leva o nome do título indo ao encontro de uma grande paixão e da chance de ver sua carreira como jogador alavancar, entramos em seu universo recheado de travas e bloqueios que o impedem dele ser quem realmente é. A tristeza que permeia esta história é desencadeada pela dificuldade que colegas, treinadores, olheiros e até mesmo sua família possuem para simplesmente olhar com respeito a escolha sexual de Mario, da mesma forma que o fazem quando este entra em campo.

    Como se a vida pessoal do jogador afetasse diretamente seu desempenho com relação aos gols necessários para subir no time, o filme apresenta detalhes rotineiros sobre a maneira com que o protagonista e seu parceiro Leon precisam lidar com pressões internas e externas. O preconceito fica cada vez mais forte à medida em que os rumores sobre o relacionamento crescem, e os dois jovens lidam com o medo de maneiras diferentes. Inicialmente, Mario não consegue enxergar muito além do que está além do clube em que trabalha; já Leon entende que não há motivos para esconder nada e, consequentemente, pensa em deixar seu futuro como jogador em segundo plano a fim de ser plenamente feliz.

    A escolha aqui existe, apesar de ser bem difícil de ser vista com clareza pelo protagonista. Por mais que a carreira profissional seja importante, é muito claro que nada pode andar para frente se a pessoa não está feliz por estar onde está. Mas Mario torna-se impossibilitado de definir o que quer para sua vida pois sempre tem alguém para olhar seu futuro antes dele mesmo. Leon, por outro lado, vê que tal escolha pode ser feita com um pouco de liberdade, coisa que Mario não sabe e nem entende o que é em essência. Portanto, é difícil condenar as atitudes de um e defender as do outro, pois todas elas são reflexos do modo como os dois jovens viveram até ali, sob diferentes realidades e opressões.

    Mario acerta no modo como aborda este tema tão sensível e atual, afinal, não é possível ver mais ficções que entrem neste tipo de conflito homofóbico completamente dispensável, mas que certamente ainda faz parte da realidade de quem trabalha com esporte. Através de tanta tecnologia e modernidade, é lastimável que o machismo ainda tenha peso tão forte dentro e fora dos vestiários - e o filme demarca bem esta triste realidade.

    Apesar de possuir uma duração um pouco mais longa que o necessário, tornando algumas passagens um tanto uniformes tendo em vista que o ponto já consegue ser destacado com facilidade, Mario é um filme que mostra até onde as pessoas podem ir a fim de conquistar a imagem perfeita. Diferente da vida real, onde se encontra sob impedimento de ser sincero consigo mesmo, o protagonista encontra sua liberdade somente em campo, atacando para o gol e sendo "feliz" por míseros segundos. Para ele e sua imagem, isso terá de ser suficiente.

    Filme visto no 26º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade, em novembro de 2018.

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