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    Ara Pyau - A Primavera Guarani
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Ara Pyau - A Primavera Guarani

    Tempo de protesto

    por Francisco Russo

    Ara pyau, na língua guarani, significa "tempo novo". A partir da associação com a Primavera Árabe, onda de protestos que rodou diversos países no Oriente Médio e no norte da África em 2010, o diretor Carlos Eduardo Magalhães busca uma analogia - um tanto quanto exagerada - acerca da decisão da tribo guarani em ir à luta e protestar contra mais um absurdo implementado contra eles: a desmarcação de suas terras, relegando-os a um trecho bem menor ao previamente estabelecido. Algo, é importante ressaltar, inédito na história brasileira, mesmo nos constantes atritos entre povos indígenas e Governo, dos mais variados partidos e pessoas.

    Apesar de bem-intencionado, Ara Pyau - A Primavera Guarani possui um problema grave: ele não explica satisfatoriamente o contexto envolvendo a tribo guarani. Por mais que surja uma faixa de protesto contra Temer aqui e reclamações sobre a perda das terras ali, a ausência de um maior didatismo acerca do que acontece deixa o espectador à mercê de seu conhecimento prévio, obtido antes da sessão. Além disso, há no filme várias lacunas em relação ao que é feito e como é feito, que aumentam ainda mais a sensação de desinformação.

    Ao invés de esmiuçar melhor o conflito, o diretor opta por registrar a cultura indígena em sua essência, a partir de cantos, rezas, danças e posturas. Se a miscigenação com a cultura dos não-indígenas é explícita, seja pela presença de um índio rapper ou o uso de camisas do Barcelona ou com o escudo do Capitão América, o apego às tradições ganha força pela pintura utilizada e o próprio local em que vivem. Entretanto, Magalhães cai na tentação do fator fofura, gastando preciosos e longos minutos ao retratar crianças em plena comunidade guarani, em toda sua felicidade. Por mais que sejam adoráveis, elas são um artifício fácil para ganhar a simpatia do público e esconder as falhas existentes no documentário ao não embasar a problemática de momento.

    Na metade final, Ara Pyau ainda sofre uma reviravolta narrativa um tanto quanto brusca, ao investir em uma trilha sonora épica e em imagens de drones para invocar grandiosidade no feito da tribo em seu protesto. Mais uma vez, a ausência de informações mina tal situação: o espectador fica sem saber detalhes do que foi feito e seu alcance, restando apenas a emblemática imagem da faixa de protesto desfraldada em uma montanha. É pouco.

    Diante de tantos problemas, o documentário perde bastante de sua força, mesmo tendo a razão a seu favor. As declarações perto do final, ressaltando a história da tribo guarani, merecem destaque não apenas pelo que é dito, mas também pela sinceridade transmitida pelo olhar. Entretanto, a imagem síntese deste filme é o encontro entre um macaco e um filhote de cachorro: fofíssimo, mas gratuito.

    Filme visto na 21º Mostra de Tiradentes, em janeiro de 2018.

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