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    Madrigal para um Poeta Vivo
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Madrigal para um Poeta Vivo

    Tico, o pensador

    por Francisco Russo

    Poucos são os filmes com um título poético que, ao mesmo tempo, tão bem sintetizam seu conteúdo. Madrigal pela composição graciosa que celebra seu autor, poeta pela produção literária desenvolvida pelo mesmo, vivo devido ao estado inquieto e contestador, que impede a acomodação. Dirigido pela dupla estreante Adriana Barbosa e Bruno Castanho, Madrigal para um Poeta Vivo é uma bela homenagem a seu personagem central, maior que o próprio filme, cuja perspicácia e riqueza de ideias simplesmente encantam.

    Dividido em capítulos, anunciados com uma variação estética que inclui uma interessante alternância do formato de tela, o documentário acompanha o cotidiano de Tico Rovida, ou simplesmente Tico, partindo de uma situação pouco usual: ele, escritor, trabalha como coveiro. Mais ainda: tal dualidade lhe rendeu uma matéria no programa Hoje em Dia, da Rede Record, cuja superficialidade é espantosa - e nem um pouco surpreendente. Na ânsia em fazer entretenimento, o jornalismo apequena o material que tem em mãos, sensação esta ampliada à medida que conhecemos mais de seu protagonista.

    Com bom humor e uma clareza de ideias exuberante, Tico conquista o espectador aos poucos. Anarquista por opção e devoto de Dostoievsky e Plínio Marcos, ele não se ilude ao comentar sobre qualquer tema apresentado, mesmo os mais dolorosos. A quebra contínua de estereótipos surpreende, à medida em que revela que decidiu morar na rua por opção ou como deixou o alcoolismo sem abandonar os amigos de bar. Maior do que fórmulas pré-concebidas, Tico é original - até mesmo nos momentos de devaneio, onde celebra grandes autores em um momento descontraído.

    Entretanto, por mais que traga um personagem valioso, Madrigal para um Poeta Vivo apresenta algumas irregularidades. Se as entrevistas com filho e amigos mantêm o interesse, ressaltando a batalha constante contra o sistema, certas investidas narrativas não funcionam a contento. É o caso das sequências circenses, referência ao livro "Balada de um Palhaço", de Plínio Marcos, que soam aleatórias, mesmo quando sua justificativa é enfim revelada. A presença do discípulo de Tico, que o acompanha nos momentos mais lúdicos, é também uma lacuna mal explicada. Por outro lado, o filme traz um interessante exercício de fotografia em determinadas cenas, explorando a iluminação crescente no breu absoluto.

    Calcado na personalidade de seu protagonista, Madrigal para um Poeta Vivo é uma dedicatória afetiva que, mais do que assumir contornos personalistas, celebra o livre pensar e a própria vida, em seus inevitáveis percalços. Bom filme, com excessos que poderiam ser podados, sustentado por uma ideologia conduzida de forma tão franca por seu personagem principal.

    Filme visto na 21º Mostra de Tiradentes, em janeiro de 2018.

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