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    Isto É um Lar: Uma História de Refugiados
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Isto É um Lar: Uma História de Refugiados

    Viva a liberdade!?

    por Taiani Mendes

    Dos cerca de 5,5 milhões de refugiados da guerra civil que assola a Síria desde 2011, 21 mil estão no Estados Unidos. Afastados de casa pela falta de segurança, eles passaram por situações terríveis e verdadeiras provações antes de entrar na antiga "terra das oportunidades", que sem dúvidas oferece uma realidade completamente distinta, mas não necessariamente os reconecta à felicidade. Em Isto é um Lar: Uma História de Refugiados, a diretora Alexandra Shiva registra a chegada de quatro famílias sírias aos EUA em 2016. Auxiliados pelo International Rescue Committee(IRC), eles têm oito meses de residência gratuita em Baltimore, contas pagas, roupas, aulas de inglês, compras, médicos e orientação para entrada no mercado de trabalho, e a obrigação de se mostrarem autossuficientes ao fim do período de auxílio.

    Acompanhando-os pelo prazo, Shiva consegue capturar através de câmeras jamais intrusas o desaparecimento do riso frouxo dos sírios conforme o tempo vai passando e os sonhos empalidecendo diante dos desafios cotidianos. Conseguir ocupação semelhante à que tinham no país natal é desencorajado logo de cara, as oportunidades (que não devem ser recusadas) são sacrificantes, a língua é difícil, o isolamento é comum e o estilo de vida é muito distinto.

    Isto é um Lar mostra como o ilusório american dream exige como sinal a submissão ao american way of life, e, mesmo abrindo mão de vários costumes e hábitos, eles não escapam da xenofobia. Bem a cara dos Estados Unidos, a implacável imposição cultural leva os adultos a questionarem se foi realmente a melhor decisão deixar a amada pátria-mãe, arrependimento forte especialmente nos homens, que ficam extremamente abatidos quando não conseguem sustentar o lar e precisam abandonar a decisão de impedir a esposa de trabalhar fora. Claro que é uma vitória para as mulheres a possibilidade de arranjar um emprego, mas o ideal seria que a revolucionária abertura fosse motivada por conversas e compreensão, não pela pura pressão econômica e pelo desespero da impotência - uma vitória completamente americana, forçada por medo.

    Os cativantes personagens enfocados pela cineasta têm em comum as famílias grandes e o objetivo de se adaptarem, mas carregam experiências diversas em seus olhares esperançosos e mentes traumatizadas. São várias as etapas do recomeçar e o simples Isto é um Lar leva o espectador a se divertir, emocionar, entristecer, acreditar, desanimar, irritar e celebrar, absorvendo as sensações dos retratados. Contundentes críticas ao modelo de acolhimento e às arbitrariedades do presidente Donald Trump ganham forma na observação e são também colocadas em palavras de maneira clara nas entrevistas, afinal sensibilizar é preciso e uma muçulmana ter que usar a bandeira dos Estados Unidos como hijab para se sentir um pouco mais segura não pode ser aceitável. Produzido pela Princesa Firyal da Jordânia e Jason Blum, o documentário é um conto de fadas com horror.

    Filme visto na 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em outubro de 2018.

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