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    Bem-Vindo à Suíça
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Bem-Vindo à Suíça

    O medo dos refugiados

    por Bruno Carmelo

    Esqueça a suposta neutralidade da Suíça e a fama de país acolhedor. De acordo com o documentário Bem-Vindo à Suíça, o país está sofrendo uma forte guinada xenofóbica, algo comprovado pelo vilarejo Oberwil-Lieli, onde o prefeito Andreas Glarner preferiu pagar uma multa caríssima, utilizando o dinheiro dos contribuintes, a receber os dez refugiados que o governo reservou ao local. A explicação dele? Muçulmanos são possíveis homens-bomba, desejam se reproduzir e acabar com o cristianismo, além de se aproveitarem das vantagens econômicas que o rico país europeu poderia oferecer.

    A diretora Sabine Gisiger faz do político de extrema-direita o seu personagem principal. Acostumado a ser confrontado, ele discorre com leveza sobre a ideia da “Suíça para os suíços”. Como contraponto, escuta-se igualmente Johanna Gündel, uma ativista pelos direitos humanos, que explica os perigos da amálgama entre islamismo e terrorismo, ou o fato que os refugiados não só não prejudicam a economia, como podem ajudá-la. O documentário busca encontrar o equilíbrio através da atenção a estes dois polos opostos.

    No entanto, saltam aos olhos os problemas de metodologia. Primeiro, é difícil dizer que o vilarejo em questão representa a Suíça inteira: além de ter uma população bastante reduzida, abriga moradores milionários, com renda muito superior à média do país. Ou seja, a eventual guinada conservadora do local poderia não refletir aquela da nação inteira. Segundo, as duas pessoas ouvidas são poucas para estabelecer um debate minimamente complexo. Por mais que sejam exemplares de suas opiniões, elas não permitem ter uma ideia de como outros cidadãos refletem. O espectro político vai muito além do pró ou contra, direita ou esquerda.

    Bem-Vindo à Suíça também se prejudica pela ausência de enfoque nos próprios refugiados. Gisiger concentra o debate na pergunta “O que fazer com os imigrantes?” sem conversar com eles, sem entender suas dificuldades, suas necessidades, suas histórias. Os poucos estrangeiros do filme são vistos de longe, sem contato. A questão dos refugiados permanece uma abstração: o documentário acredita que todos tenham o direito de abrigo num país com condições financeiras para tal, mas revela-se incapaz de fornecer soluções concretas devido à evidente distância em relação às pessoas que busca ajudar.

    Ao menos, o resultado consegue captar um debate importante, incluindo dados e pesquisa histórica, com as ferramentas e as particularidades da era contemporânea. A cineasta explora o fenômeno das notícias falsas (as “fake news”), das redes sociais, a importância da Internet e das campanhas dialogando com o medo contemporâneo da violência e o medo da alteridade. Trata-se de um passo modesto, incapaz de representar um fenômeno mais amplo, porém constitui um bem-intencionado começo.

    Filme visto na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2017.

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