Um filme excelente, excêntrico por natureza, assustador e adorável. Revolucionário em diversos sentidos, permito-me falar, e genial em enredo, filosofia e cinematograficamente. Podemos ver como a liberdade jamais existe dentro do filme, e da realidade à qual Stanley quis denunciar.
Apesar de "destruir" o mal que existe em Alex na maior parte do filme, o mesmo tirou dele tudo o que lhe dizia sobre sua essência. Sua música favorita que lhe causava arrepios e divagações longas tornou-se dona de uma das piores sensações que o protagonista já sentira.
Stanley obviamente denuncia a violência, mas assim como o livro, a violência em três partes:
a que o rapaz pratica seu "horrorshow", estuprando, ferindo e matando, sendo livre em sua essência, porém trazendo com ela malefícios aos outros em sua volta.
Em seguida, há a segunda parte:
a violência na prisão. Tudo o que dava um real prazer a Alex é destituído do mesmo, para fazê-lo "mudar para melhor". Na experiência em teste, podemos ver o Sistema com a intenção de mudar o comportamento "animalesco e errado" do humano, como matar e estuprar. Entretanto, tiram de Alex (nome que em si já possuí seu significado, "sem-lei") seu maior bem: ser quem ele é. Tudo que lhe dá prazer transforma-se em horror. E então o filme dá uma bela reviravolta, dando a Alex violência que o mesmo deve aceitar submisso. Isto mesmo dentro da lei e da moral é injusto, sendo que ele agora não pode sequer se defender. Vemos como o protagonista sofreu mais do que a perda de sua liberdade de expressão essencialista por normas e morais do Sistema, mas também o próprio direito de reagir.
Ainda há o contexto político,
em que a experiência foi feita para ganhar votos numa solução de esvaziar as cadeias e achar a "solução para os humanos", e os opositores do partido que promoveram a experiência, tentam de alguma forma provocar uma reação brusca (e conseguem, a tentativa de suicídio) em Alex, que é somente um peão no meio das duas grandes mãos.
O fim, mais impactante em minha opinião, que infelizmente o filme não ilustra, sendo que o livro demonstra bem é a terceira parte da violência:
o 21° capítulo, último, em que Alex sofre a violência de ser comum. De viver para consumir, trabalhar para ter renda, ter uma família pra procriar, e viver como um pássaro enjaulado, percebendo ou não. A violência que o Sistema empurra, agride devagar, escraviza a mente sutilmente e prende então comportamentos e essências.
Stanley mostra com certa delicadeza suas críticas, dentro de todo o filme.
Dentre de todas essas observações, vejo o filme como uma obra magnífica. Liberdade e violência, denúncia e arte. Tudo num só roteiro.