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    El Pampero
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    El Pampero

    O mínimo denominador do suspense

    por Bruno Carmelo

    Fernando (Júlio Chavez) está muito doente, mas não conhecemos exatamente seu quadro clínico. Quando questionado a respeito, o homem tímido muda de assunto. Carla (Pilar Gamboa) mantém um relacionamento estranho com um homem poderoso, envolvido num acidente, mas as circunstâncias não são esclarecidas por completo. Marcos (César Troncoso) demonstra uma insistência curiosa em falar com Fernando, embora suas reais motivações sejam desconhecidas. A confluência dos mistérios compõe a essência do minimalista El Pampero, obra que se pretende asfixiante a partir de elementos quase inexistentes.

    A referência mais próxima seria o clássico A Faca na Água (1962), de Roman Polanski, no qual três pessoas também se envolviam numa manipulação perigosa dentro de um barco, com insinuações constantes de assassinato e atos sexuais. No caso da obra argentina, o diretor Matías Lucchesi prefere atenuar o suspense com um drama tradicional, no qual os três solitários agem instintivamente, aceitando a presença dos colegas intrusos por solidão ou incapacidade de recusá-los.

    Em míseros 77 minutos, o roteiro insiste na sugestão de algo grave prestes a acontecer, no caso, um inevitável choque entre eles. Mero engano: os principais conflitos de cada um ocorreram antes da narrativa começar. Ao filme, cabe apenas segurar o máximo possível as explicações básicas sobre eles: de onde vêm, para onde vão, qual é a doença, como ocorreu o crime etc. O público sabe qual informação lhe é ocultada, a direção detém a única peça que falta para completar o quebra-cabeça, no entanto posterga-se ao máximo a revelação, na esperança de que a suspensão do conflito seja tão interessante quanto o próprio conflito.

    Nesta ambição, o filme enfraquece sua relação com o público: apesar das atuações sólidas do trio central, seus personagens lacônicos penam a despertar identificação, enquanto a falta de desenvolvimento dramático faz a trama se arrastar por inércia, pelo simples prazer de continuar. Quando a explosão enfim acontece, ela parece vinda de lugar algum, incapaz de conferir profundidade a personagens condenados ao silêncio forçado pelo roteiro. A embalagem permanece atraente, com imagens bem construídas e ambiente sonoro rico em nuances, porém a frieza diminui a tensão. Isso sem falar na dificuldade de impor dinamismo às cenas, limitadas pelo espaço restrito do barco.

    El Pampero (nome de uma tempestade que desencadeia o clímax entre o trio) integra o grupo de obras contemporâneas com aversão ao excesso de explicações e de melodrama dos grandes filmes de estúdio. A busca pelo oposto dessa fórmula é louvável, porém igualmente desmedida em suas ambições. Quando todos são misteriosos, quando os indícios ao público se tornam praticamente inexistentes, corre-se o risco de perder o interlocutor que, expulso do jogo espectatorial, pode se desligar da projeção e perder o interesse no desenlace.

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