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    Carmen & Lola
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Carmen & Lola

    A ovelha colorida da família

    por Taiani Mendes

    Se a adolescência é um período da vida complicado para todos, imagina então para uma garota cigana, moradora da preconceituosa Espanha, secretamente homossexual e cheia de ambições? Carmen (Rosy Rodriguez) adora estudar, tem inclinações artísticas, é obediente, frequenta os cultos e ajuda o pai no serviço, mas para sua legítima família cigana nada disso é tão importante quanto arrumar um marido. O tempo dos casamentos arranjados ainda na infância, no entanto, já passou, e a garota experimenta confortavelmente, apesar de certa pressão, a liberdade de fazer o que gosta enquanto espera o homem certo entrar em sua vida. O complicador é que aparece uma mulher: Lola (Zaira Romero). Tão sedutora quanto hétero e ainda por cima noiva de seu primo.

    Carmen & Lola, escrito e dirigido por Arantxa Echevarria, tem como epicentro dos sentimentos a história de amor entre as duas jovens, mas não se contenta em ser apenas mais um previsível romance lésbico adolescente em que o primeiro beijo e a primeira transa representam os picos de emoção. O povo cigano tem suas especificidades e a cineasta embebe o romance nessa cultura, dedicando-se principalmente a mostrar o conflito que se instala nas garotas entre os interesses individuais e as características da etnia. O bacana é que as duas têm orgulho de ser ciganas e não desejam largar sua comunidade. Seguem as tradições, amam as famílias e sofrem ao notar que a paixão que sentem é motivo de horror entre os seus, transformando-as nas indesejadas dentro do povo indesejado.

    Antes de chegar nisso, no entanto, elas vêm de trajetórias distintas. Lola é feliz seguindo exatamente o que dela é esperado, preparando-se para casar e sonhando em se tornar cabeleireira, profissão tradicional das ciganas. Carmen, por outro lado, vive para desafiar normas, apesar de ter medo de conhecer outra realidade - seja indo morar em outro lugar, seja se encontrando pela primeira vez com alguém do mesmo sexo. Construído, não estabelecido, o relacionamento das duas surge para levá-las a expandir seus horizontes e não é fácil especialmente para Carmen, a quem a trama oferece mais espaço.

    Segundo longa ficcional da diretora, Carmen & Lola não pode ser chamado de primor técnico e poderia ter atuações melhores, porém possui uma genuinidade cativante que se impõe às limitações. Além de romântico puro e feminista, dá atenção aos costumes dos patriarcais ciganos, destacando de maneira muito forte sua conexão com a religião dominante do local em que vivem, e é impecável no que se refere a homofobia. Amar liberta e aceitamos fingir que pouco importa o depois.

    Filme visto na 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em outubro de 2018.

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