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    A Última Loucura de Claire Darling
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    A Última Loucura de Claire Darling

    Laços de família

    por Barbara Demerov

    É mais do que coerente definir A Última Loucura de Claire Darling como um filme feito em família sobre família. Catherine Deneuve atua ao lado de sua filha Chiara Mastroianni em uma trama cujo principal fluxo é o da memória. O passado atua como personagem para ambas e possui uma forte carga emocional sobretudo para Claire (Deneuve), mãe de Marie (Mastroianni), que acorda num dia que já considera como o último de sua vida.

    Passado ao longo de apenas um dia, o longa de Julie Bertuccelli traça diversas passagens da vida da protagonista a partir de um ato extremo: ao acordar e sentir tal pressentimento, Claire decide se livrar de praticamente todos os seus pertences, chamando a atenção da pequena cidade em que mora. Como resultado, Marie retorna após anos distante da mãe; tudo para encontrar um relacionamento repleto de falhas e desentendimentos. Diante do abandono voluntário de itens pessoais e familiares, este acaba se tornando o cenário perfeito para que mãe e filha voltem a se enxergar.

    Naturalmente, ver Deneuve e Mastroianni dividindo a tela já é o suficiente para que uma forte energia seja passada ao espectador, mas todo este contexto se transforma em algo mais poderoso diante do roteiro do longa. As atrizes exprimem raiva, amargura, tristeza e saudade em um misto de diálogos que transbordam os mesmos sentimentos, mas sempre deixando no olhar a vontade insistente de fazer com que tudo fique bem. A doença de Claire devido à sua idade possui boa parcela de responsabilidade em seus atos, mas também a deixa mais suscetível a encarar sua vida com mais clareza em dados momentos.

    A sutileza da fotografia - com cores suaves e o bom aproveitamento da casa e jardim da família Darling -, assim como da direção, que executa belos planos-sequência capazes de nos fazer sentir a confusão e o medo da própria protagonista diante de sua enfermidade, se unem da melhor forma com todos os elementos que compõem o filme. E, apesar de abordar temas complicados simplesmente por se tratar de uma filha que se afastou da mãe após uma série de tragédias familiares, A Última Loucura de Claire Darling expõe o lado agridoce e a perpetuidade de tal relação, que é tão intensa quanto devastadora.

    No fim das contas, a maior loucura de Claire diz muito sobre sua sanidade. Acompanhar as nuances da personagem, elegantemente interpretada por Deneuve, é como estar numa montanha-russa de emoções, assim como é a vida. O filme de Bertuccelli se trata de uma verdadeira viagem com a duração de apenas um dia, mas com a intensidade que só pode ser vivenciada a partir de muitos anos, memórias e aprendizados.

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