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    The Silence
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    The Silence

    A sobrevivência do mais fraco

    por Bruno Carmelo

    O mundo está sendo atacado - ou pelo menos os Estados Unidos, já que as imagens na televisão mostram apenas cidadãos norte-americanos correndo de um lado para o outro. Criaturas voadoras, e sem olhos, atacam qualquer ser vivo que produza o mínimo som, a exemplo de uma mulher idosa tossindo levemente dentro de um carro fechado - mas curiosamente não escutam dezenas de portões de ferro abrindo e fechando. Para sobreviver, a família Andrews precisa se mudar para o campo, onde teoricamente há menos barulho - ou poderiam simplesmente ficar dentro de casa, mas então não haveria filme, razão pela qual o núcleo julga mais seguro e menos ruidoso fazer uma longa viagem sem destino ao invés de simplesmente trancar portas e janelas. Para isso, ele contam com GPS, Internet banda larga e celulares que funcionam à perfeição, apesar de cidades inteiras terem sido destruídas.

    É ao mesmo tempo muito fácil e muito difícil acreditar na trama de The Silence. Fácil, porque se trata de uma família de vocação universal, incluindo uma criança pequena, uma filha surda, um cachorro e uma idosa doente para criar simpatia. Fácil, igualmente, porque acabamos de ver uma trama muito semelhante em Um Lugar Silencioso e Bird Box, nos quais este filme é obviamente inspirado, como tentativa de navegar no sucesso alheio. Difícil, no entanto, por conta de suas inúmeras incoerências e exageros. O roteiro parece ter sido feito às pressas, sem preocupação com a coerência narrativa. Os responsáveis devem ter apostado que a premissa, em si, se encarregaria da tensão, sem a necessidade de explorar melhor o papel de cada membro da família.

    Por isso, o resultado soa um tanto mais simplório do que seus referentes, e muito mais conservador. Primeiro porque, enquanto Um Lugar Silencioso e Bird Box colocavam as mulheres em papel de destaque, à frente das decisões, aqui as protagonistas femininas apenas aguardam as ordens do marido/pai/genro (Stanley Tucci), enquanto ostentam rostos sofridos. Segundo, porque a construção de personagens é nula: o fato de Ally (Kiernan Shipka) ser uma garota surda é praticamente inutilizado no filme, a doença letal da avó é esquecida, a coragem sem limites do amigo Glenn (John Corbett) é subaproveitada. Os roteiristas imaginam uma característica principal para cada personagem, apresentam-na desde o princípio, e depois esquecem de aplicá-la ao resto da narrativa.

    Acima de tudo, a impressão de conservadorismo provém de seu aspecto religioso. Isso se deve não exatamente à seita que aparece de lugar algum, toda vestida de preto em representação de sua má índole (e que sobe em telhados sem produzir sons), mas na lógica do sacrifício como elemento necessário para a manutenção da família. Um Lugar Silencioso e Bird Box também trabalhavam com a ideia de pais dispostos a dar a vida pelos filhos, no entanto esta noção era diluída pela existência de outros membros do grupo que contribuíam à sobrevivência sem precisarem recorrer à tragédia. Em The Silence, apenas o martírio permite à trama se desenvolver: pelo menos cinco pessoas e animais são sacrificados em nome da família Andrews. Estes agradecem a morte alheia e seguem adiante sem grandes traumas psicológicos, esperando pela próxima intervenção externa.

    Este elemento incomoda bastante num drama de sobrevivência: a passividade dos protagonistas. Um Lugar Silencioso, Bird Box, mas também Rua Cloverfield, 10, Ao Cair da Noite, Light of My LifeO Regresso e tantos outros são baseados na inventividade e no iniciativa de seus protagonistas diante do perigo. Dos planos arriscados nasce a tensão: será que darão certo? Mas a família Andrews é surpreendentemente plácida, esperando o mundo agir por ela, surgindo na forma de uma garotinha indefesa, de uma casa que aparece no horizonte ou de um namorado que avisa por mensagem onde se encontra o refúgio mais próximo. Até por isso, a conclusão decepciona: nenhum plano é posto à prova - os personagens apenas seguem em frente. A trama se suspende porque seria preciso parar em algum momento, porém os conflitos permanecem sem conclusão.

    O diretor John R. Leonetti, que ostenta seu nome orgulhosamente no início da produção (como “um filme de”, e não “dirigido por”), demonstra dificuldade em trabalhar a ambientação, em construir tensão, em elaborar personagens, em dirigir atores. Além disso, não evita a impressão de fornecer um genérico de dois dramas de terror recentes, e muito melhores do que este. The Silence pode funcionar, no entanto, com o público que não tenha visto estas referências anteriores, ou que se preocupe mais com a sugestão do terror (o ataque de monstros voadores e sanguinários) do que com o desenvolvimento do mesmo.

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    Comentários

    • Antonio Pacheco
      Filme interessante. Assiste-se do inicio ao fim sem sacrifícios. Agora, não tem nada de criativo, tampouco é original. Como um dos comentaristas aqui notou de maneira inteligente, como seres que necessitam de tanto sangue poderiam viver milhares de anos numa caverna??? Comendo-se uns aos outros? O canibalismo os destruiria como espécie em uma semana. O pecado do roteiro está aí. De resto, para um final de tarde, legalzinho, porque o elenco é bom. E vamos lá: Netflix tem coisas boas, mas tem estes digestivos de fim de tarde às pencas.
    • João Almeida
      Esse filme é cheio de coisas estranhas e mal explicadas no roteiro (começando mesmo pelo aparecimento dos pássaros-dinossauros), realmente ficou umas dezenas de partes incoerentes e sem explicação do que ou por que aconteceu, sem desenvolver a história ou os acontecimentos. Os personagens sãoneutros, apenas recebendo ou aceitando tudo à medida que a história acontecia (como a casa que surgiu do nada, e a morte da moradora da mesma, aquela senhora que morreu e ninguém nem comentou nada), e outras coisas assim, como também a morte do cachorro que foi facilmente aceita (sem desenvolvimento algum da adolescente a respeito do acontecido), dentre outras coisas que não afetaram quase nada os personagens... Bem estranho mesmo esse filme, parece que foi feito com falta de vontade de os produtores criarem algo que realmente valesse a pena ser assistido... Não recomendo caso você esteja procurando um filme com roteiro mais desenvolvido ou mais bem elaborado.
    • Crismika
      Filme com uma boa proposta para contar uma história que seria muito interessante, mas ao longo do filme nos deparamos com certos erros, mas vale a pena se levar pelo lado que é puro entretenimento.
    • Ana Teles
      aqui as protagonistas femininas apenas aguardam as ordens do marido/pai/genro que frase babk!
    • Roger R
      Acho que foi uma cópia tbm do filme O nevoeiro
    • André Braga
      Poxa eu ja tinha assistido o Lugar silencioso. Pra mim nem foi tao ruim. Quem assiste um filme por entreterimento e sem procurar falhas nao liga pra todos esses detalhes. Se parar pra pensar sim. Mais o filmes nao é pra 1,5 não
    • Thiago
      cortaram como uma forma de prova de fe
    • Bernardo B
      Boa resenha Bruno. Não esperava menos de ti.Abc
    • Pamela
      Neste texto achei as palavras que estavam entaladas na minha garganta desde que apertei o 'play' para assistir O grande plágio (nome que deveria estar no lugar de The Silence). Estava absurdamente incomodada com a falta de coerência e a surdez cada vez crescente das criaturas que deveriam possuir super audição! Coloquei meus conhecimentos a prova diversas vezes ao me perguntar se talvez o filme estivesse certo e andar sobre a grama, terra e asfalto com botas pesadas realmente não produz nenhum tipo de som, ou se colocar toalhinhas nas beiradas das portas me permitiriam abrir e fecha-las descuidadamente enquanto a super população de 'pássaros', que mais parecem uma versão menor de um dinossauro, sobrevoava a casa e os arredores.Além das duas referências já citadas no texto, achei grande parte da narração inicial e final, e o quase protagonismo da garota adolescente uma tentativa de reproduzir a personagem Cassie de A Quinta Onda. Pena que todas as referências que tentaram usar não trouxe nenhum de seus benefícios, penso eu que seria melhor se tivessem usado a sua própria imaginação e criatividade ao escreverem o roteiro. Talvez reproduziriam algo que valesse a pena.
    • Wilson Hugo Cavalcante Freire
      nao ficou claro como ela perdeu a audição, a unica coisa clara é a teoria da evolução onde no final ía definir qual das especies se adaptariam melhor, as vespas ou os humanos, porém ficou tambem a incognita: quem eram aqueles seres da seita religiosa? eles tinham a lingua deformada (porque?)
    • Zeyne Theus
      Hahahahaha. Melhor comentário! Tempo de vida perdido com esse filme...
    • Lima
      Filme horroroso. Para que servia e menina surda? Melhor se ela fosse muda, já q não podiam fazer som. Exploradores de caverna acham uma câmara (ou sei lá o q seja) onde criaturas cegas e com excelente ouvido vivem e, obviamente, alimentados pela pessoal da produção (caso contrário morreriam de fome presos na caverna). Aproveitando, gostaria de saber qual o provedor de internet usado no filme que pega perfeitamente no campo, ou isso é só um detalhe ? Ah, também teve uma participação especial de uma cascavel, inserida ali, possivelmente esquecida pelo pessoal de outra produção. Quanto aos malucos que aparecem no filme, acho que eram o próprio pessoal da produção fazendo uma ponta. Outra coisa que quero saber, com a produção é claro, qual o nome do antibiótico miraculoso usado na mulher q foi mordida, que em 1 dia a curou?
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