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    Mexeu Com Uma, Mexeu Com Todas
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Mexeu Com Uma, Mexeu Com Todas

    Grito de alerta

    por Bruno Carmelo

    Na época em que a mídia começa a dar atenção (ainda que insuficiente) aos casos de abuso contra mulheres, chega aos cinemas o novo documentário de Sandra Werneck, apresentando histórias de violência e ressaltando a importância dos protestos feministas. A diretora entrevista sete vítimas de agressão, desde figuras emblemáticas que levaram à criação de leis específicas (Maria da Penha, Joana Maranhão) até mulheres anônimas, de classes sociais diferentes, que foram agredidas por maridos, namorados ou desconhecidos.

    A estrutura é simples, mecânica: as mulheres compartilham suas histórias à câmera, iniciando os relatos pelo primeiro contato com os homens até evoluir ao episódio de violência. Existe a preocupação em representar abusos físicos e psicológicos, sexuais e verbais. Felizmente, todas estas mulheres possuem distanciamento em relação ao episódio abordado, de modo que o filme não busca a sensibilização pelas lágrimas nem pelo estatuto de vítimas. Pelo contrário, Werneck ressalta a iniciativa das personagens em abandonar os maridos agressores ou denunciar estupradores à Delegacia da Mulher.

    As entrevistas são sistematicamente intercaladas com imagens de protestos e frases de apoio, confirmando a posição combativa. De modo geral, o conteúdo extraído dessas conversas é tão esclarecedor quanto imediatista: sabe-se que as entrevistadas sofreram, lutaram e adquiriram consciência de suas situações, além de se compararem com outras pessoas na mesma situação. Este documentário aposta no cinema informativo, pedagógico, que pretende instigar o público a levantar de sua poltrona e lutar contra as injustiças. Trata-se de uma concepção clássica do cinema político, que convida à luta antes mesmo do debate sobre o tema.

    Isso porque Mexeu Com Uma, Mexeu Com Todas não efetua uma reflexão particularmente profunda sobre sua premissa. A cineasta menciona apenas de passagem questões essenciais como as razões históricas e culturais que levam mulheres a se calarem diante da agressão doméstica, o funcionamento da virilidade baseada na apropriação, a criação de novas leis além da Maria da Pena, a presença massiva de homens brancos na política criando as leis que controlam o corpo feminino. O feminismo contemporâneo é composto de pontos de vista radicalmente diferentes, mas as vozes em cena parecem evocar a mesma história, a mesma luta, a mesma leitura social. Não existe contradição, fricção, dialética.

    O resultado é uma importante constatação de casos individuais, representativos de inúmeros abusos que acontecem diariamente no país. Werneck ainda sugere uma solução, que passaria pela educação das gerações futuras (Mas de que modo? Nas casas, nas escolas, com leis, com maior punição, com sistemas de cotas?). Mesmo assim, pode frustrar o espectador pela leitura superficial, como feita às pressas, preferindo aproveitar um debate em voga ao invés de aprofundar o trabalho de pesquisa e montagem. Funciona como uma introdução ao tema, um primeiro passo para os interessados investigarem por conta própria as implicações políticas e sociológicas do problema.

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