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    Foucault Contra Si Mesmo
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Foucault Contra Si Mesmo

    Equivale a uma palestra

    por Taiani Mendes

    Quem foi Michel Foucault? Caso não saiba nada e caia de paraquedas numa sessão do documentário Foucault Contra Si Mesmo, o espectador descobrirá logo na abertura que ele nasceu em 1926 e faleceu em 1984, era um careca sorridente e publicou importantes obras literárias misturando história e filosofia num intervalo de duas décadas. O título pode sugerir hermetismo, mas o filme de François Caillat na verdade é bastante didático e introdutório. Dividido em quatro capítulos, é ancorado em dissertações de filósofos e historiadores franceses acerca das ideias do acadêmico. Entrevistados na imponente Biblioteca Nacional da França, os analistas oferecem suas interpretações dos textos de forma clara e livre de idolatria, comentando inclusive as recepções negativas – como ao clássico As Palavras e as Coisas.

    O motor da discussão que guia Foucault Contra Si Mesmo (ou Foucault X Foucault) é a incoerência de sua bibliografia, cada livro parecendo assinado por um autor diferente. A edição joga um vídeo de arquivo do filósofo se explicando bem no começo, porém ainda assim o tema permanece orientando os depoimentos até a conclusão. Sem se restringir aos escritos, Caillat aborda de forma não intrusiva a vida pessoal de Michel, dedicando dois dos capítulos a aspectos mais relacionados à sua personalidade – um sobre o seu ativismo e outro em que é debatida sua trajetória única e “sem fronteiras”. Intimidade, acertadamente, jamais figura entre os focos do diretor e o público, que no máximo toma conhecimento das instituições que Foucault frequentou e de seus interesses nos Estados Unidos, precisará recorrer ao Google ao fim da sessão para descobrir onde ele nasceu e de que morreu, por exemplo.

    O documentário, no que diz respeito ao assunto que se propõe a tratar, é bem-sucedido. As principais ideias e obras de Foucault são apresentadas, as contradições explicitadas e é possível compreender, a partir de seus feitos dentro e fora das universidades, seu papel na transformação da definição de filosofia. Do ponto de vista cinematográfico, no entanto, o filme é incrivelmente fraco. As imagens variam entre as falas gravadas na enorme biblioteca, material de arquivo (entrevistas com Foucault, no entanto, são poucas) e ilustrações dos assuntos dos livros, sem qualquer esforço em ir além do básico do básico em produções do tipo. A exagerada música gera distração e durante os depoimentos rápidas tomadas de outros entrevistados inertes são inseridas sem qualquer lógica dedutível. Parece que a outra pessoa mostrada vai falar na sequência, mas não. São apenas aparições bizarras recorrentes. Será que o cineasta acreditou que dessa forma estaria induzindo a ideia de versus? Fica no ar a incompreensão.

    Sem muita profundidade, afinal são apenas 53 minutos, Foucault Contra Si Mesmo quase nada deve acrescentar aos conhecimentos dos estudiosos da filosofia do autor, mas é altamente recomendado aos abertos ao primeiro contato ou interessados em um resumo direto e confiável. Irrelevante como cinema, é material audiovisual perfeito para exibição em salas de aula, tanto pela duração relativamente curta, quanto pela possibilidade de reflexão que abre, além de promover de forma atraente a bibliografia do francês.

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