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    Cuatreros
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Cuatreros

    Albertina fala sobre Albertina

    por Bruno Carmelo

    No início, este projeto se assemelha menos a um filme do que a uma defesa de tese. A diretora Albertina Carri se apresenta em voz off, fala sobre seu tema de estudo, suas hipóteses, objetivos e metodologia. Ela tem a preocupação de antever críticas à pesquisa ao afirmar que lhe importa menos a precisão do material do que o significado do mesmo. O objeto de estudo, a princípio, é a história do revolucionário argentino Isidro Velázquez e um filme perdido realizado a seu respeito. Na prática, Albertina fala sobre a sua opinião da História, sua dificuldade de tratar o tema, sua relação familiar com Velázquez, sua tentativa frustrada de fazer um filme sobre ele. Albertina deseja falar de Albertina.

    Cuatreros adota a forma de um devaneio pessoal, o diário de alguém enfrentando dificuldades para atribuir uma forma coesa a seus pensamentos. “Eu não sei muito bem o que fazer com essas imagens”, ela admite, diante do farto material de arquivo encontrado em um museu de seu país. Na dúvida, aposta no acúmulo, ou ainda na fricção entre registros opostos: a cineasta fragmenta a sua tela em duas, três, quatro ou cinco telas simultâneas, com cenas ostentando uma discreta relação com as frases narradas. São fragmentos da época, ou de personagens fictícios atuando em cenas semelhantes àquelas citadas. Uma evocação, enfim.

    O resultado é menos um longa-metragem coerente do que uma instalação, convenientemente exibida como tal no Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires, o MALBA. Ao fim de 85 minutos, talvez o espectador tenha descoberto pouco sobre Velázquez, ou ainda sobre a política argentina no século XX, mas ele compreenderá bastante a respeito da reflexão caótica da cineasta. O projeto envereda pelo fluxo constante de informações, num ritmo tão livre quanto pesado para o público que tentar absorver tamanha quantidade de dados.

    O ritmo torna-se ainda mais problemático devido à narração opressiva de Carri. Ela narra o documentário da primeira à última cena, em ritmo frenético, sem pausas, sem respiros. A diretora cola na mesma frase elementos históricos, anedotas de sua vida privada e indagações filosóficas sobre os rumos de um país. Talvez, isoladamente, existam muitos elementos de interesse. O problema é que eles se sucedem a outros muito menos interessantes, e que o conjunto, por si só, constitua um amontoado sem grande preocupação com a produção de sentido.

    Este é um dos maiores incômodos de Cuatreros: a impressão de ter sido feito apesar do público, sem se importar com a percepção possível. Albertina Carri construiu um filme para si mesma, na intenção de organizar suas ideias, acertar as contas com o passado e efetuar uma terapia através do processo de criação. Ao espectador cabe o papel de voyeur, talvez curioso, porém intruso ao mecanismo hermético e autocentrado da cineasta.

     

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