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    A mãe, a filha e a mãe fora de si

    por Taiani Mendes

    Sem ver a filha há dez anos, Catherine (Lolita Chammah) reaparece querendo estreitar laços e assumir seu papel na vida de Alba (Themis Pauwels). A menina recebe a visita com desconfiança e a avó responsável por sua criação, Elisabeth (Isabelle Huppert), é ainda mais cética, mas não impede que a garota aproveite a grande oportunidade de enfim conhecer sua genitora. O que começa como uma simples tarde no parque, no entanto, evolui para convivência forçada num chalé isolado. Catherine quer a filha morando com ela, mas não tem qualquer noção de como cimentar esse caminho. Barrage, segundo longa-metragem da diretora Laura Schroeder, acompanha a personagem de Chammah num delírio de responsabilidade. Queimando etapas, Catherine monta um quarto para a filha sem ao menos tê-la visto, a arrasta para o mato contra a vontade e crê cegamente numa reconexão imediata que a colocará ocupando o lugar de mãe na vida de Alba. Por fim sabota o próprio plano.

    Sete anos após Copacabana, Huppert volta a contracenar com a filha. Novamente suas personagens têm o mesmo parentesco da vida real e não se entendem. Conflito principal na despretensiosa comédia de Marc Fitoussi, o desacordo das duas aqui é usado como decoração de canto. O roteiro de Schroeder e Marie Nimier tem como foco a tentativa de Catherine de recuperar Alba e lamentavelmente minimiza a participação da avó na disputa. A limitada proporção 4:3 das imagens estabelece que só há espaço para uma ou duas pessoas, jamais três em quadro. Bonito é.

    Semelhantes fisicamente, com o cabelo ajudando Pauwels a ser incluída na família, as três gerações podem ser vistas como três momentos da mesma vida e Catherine se esforça para impedir que Alba repita sua trajetória a partir do tênis ao mesmo tempo em que busca se afastar o máximo possível da maternidade ao estilo de Elisabeth. O grande problema é que ela entra na ambiciosa empreitada sem dominar o básico: seu equilíbrio. O drama abre mão de se debruçar sobre a relação entre avó, mãe e filha para acompanhar a ficha de Catherine caindo, porém não chega a se aprofundar tanto quanto poderia na questão, resultando frio.

    Barrage nos revela muito pouco de Catherine no mesmo compasso lento em que a personagem toma ciência de suas limitações e delírios. Todos os indícios estão lá desde o começo, mas o motivo pelo qual ela se afastou da família é verbalizado apenas na metade final do filme. Na metade final boa, antes da metade final ruim em que brotam sequências oníricas sem finalidade dentro da trama. Às vezes a direção parece tão sem noção do que está fazendo quanto a protagonista buscando a maternidade. Lolita não é uma grande atriz, porém consegue crescer no bate-bola com as parceiras de maior talento. Isabelle não se esforça muito na rara participação de luxo e Themis impressiona pela expressividade.

    A comunicação e repreensão entre as personagens se dá em silêncios e olhares, o que gera uma enorme expectativa pela necessária explosão de mágoas que em momento algum se dá. Catherine vomita inúmeras acusações contra a mãe, troca meia dúzia de palavras e carinhosos com Alba e Barrage parece terminar de volta ao ponto que começou, como um pastiche made in Luxemburgo do gênero "cinema francês em que nada acontece" (que sequer existe de verdade).

    Filme visto no 19º Festival do Rio, em outubro de 2017.

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