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    Noelle
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Noelle

    Tecnologia vs. espírito natalino

    por Vitória Pratini

    Ao longo dos anos, inúmeros filmes de comédia ganharam o status de clássico natalino. Noelle, infelizmente não é um deles. O filme do Disney+, estrelado por Anna Kendrick e Bill Hader, consegue entreter, até certo ponto, e traz uma mensagem de Natal inspiradora, mas não apresenta nada de original em relação a outras produções.

    A trama acompanha a família Kringle, que foi realeza do Pólo Norte por 2000 anos, tendo a missão de trabalhar o ano todo para entregar presentes na véspera de Natal e auxiliar o Papai Noel — o patriarca de cada geração. Quando o velho Noel morre (Pois é! Nem vamos falar em infâncias destruídas...), cabe ao seu filho, Nick (Hader), assumir seu manto. No entanto, o rapaz não acredita que seja sua vocação — ao contrário de sua animada irmã, Noelle (Kendrick). A moça sempre esperou ter um papel maior na preparação para a noite de Natal, mas foi colocada à escanteio, fazendo cartões comemorativos ao invés de algo mais efetivo para a engrenagem da entrega de presentes. Tentando animar o irmão mais velho, sugere a ele que tire um fim de semana de folga. Quando ele não retorna, cabe à Noelle ir buscá-lo — em Phoenix, no Arizona.

    NOELLE É O PRIMEIRO FILME NATALINO ORIGINAL DO DISNEY+

    Dirigido e roteirizado por Marc Lawrence, o especialista em comédia romântica, responsável por escrever clássicos como Miss SimpatiaPerdidos em Nova York e Letra e Música, Noelle foi originalmente planejado para chegar aos cinemas. No entanto, mudou de rumo e foi lançado nos Estados Unidos no ano passado, antes da pandemia, diretamente no streaming, ganhando o selo do Disney+.

    Aliás, trata-se do primeiro filme natalino original da plataforma. Enquanto tal fato poderia significar a qualidade de telefilmes do estúdio fosse aumentar, na verdade indicou que produções antigamente voltadas para o Disney Channel agora chegarão ao streaming da companhia. Isso porque Noelle tem resoluções simples que se esticam além da conta durante todo o filme, coadjuvantes pouco desenvolvidos e efeitos visuais de pouco orçamento.

    BILL HADER ROUBA A CENA, MAS AINDA ASSIM É MAL APROVEITADO

    Em sua primeira metade, no Pólo Norte, o enredo é sem graça e enfadonho, apostando em trocadilhos óbvios com expressões de Natal. Quando chega em Phoenix, bebe de referências escancaradas a Um Duende em Nova York e Encantada, e outras de fato faladas como Frosty - O Boneco de Neve. A segunda metade melhora consideravelmente com o retorno de Bill Hader como Nick, que se tornou um professor de ioga com um segredo a esconder (que ele é o Papai Noel e não um assassino como na excelente Barry). O ator, como sempre, rouba a cena — nas poucas em que a aparece, pelo menos — e deveria ter sido mais aproveitado no filme como um todo.

    Além disso, o filme se beneficia quando o primo Gabe (Billy Eichner) assume como Papai Noel na ausência de Nick. Seu desejo de tornar todo o sistema de entrega de presentes tecnológico levanta o questionamento de que o uso da tecnologia pode tornar as relações humanas impessoais e mecânicas. É quase vilanesco e emprega um ar de Black Mirror ao filme.

    ANNA KENDRICK NÃO TEM O CARISMA QUE NOELLE PRECISA

    A jornada de Noelle, por sua vez, é até bem construída — de uma menina mimada e exigente (que precisa ter as calcinhas natalinas lavadas por ninguém mais, ninguém menos que Shirley MacLaine) para alguém que descobre o poder da solidariedade. Porém, Anna Kendrick, que brilhou nas franquias A Escolha Perfeita e Trolls, não consegue entregar o carisma necessário para a personagem.

    Todo o fato da aldeia do Pólo Norte (inclusive Noelle) só perceber que uma mulher poderia assumir como Papai Noel (ou, no caso, Mamãe Noel) no final é uma tentativa do roteiro de aplicar uma virada feminista. No entanto, é antiquado e machista para os dias atuais que isso não tenha sido mencionado antes, e nem a própria personagem principal ter percebido que isso era uma possibilidade.

    A dinâmica entre a elfo Polly (Shirley MacLaine) e Noelle também tenta ser engraçadinha, mas acaba saindo como uma situação perturbadora e, novamente, antiquada. Tal arco não tem nenhuma reviravolta positiva. Shirley MacLaine é sempre excelente, claro, mas sofre com o roteiro.

    Apesar de todos os problemas, entretanto, Noelle consegue entregar uma emocionante mensagem natalina de solidariedade — ainda que pautada no fato de que presentes nessa data façam parte da grande indústria capitalista (e inexplicavelmente todas as crianças do mundo queiram iPads).

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