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    Um Judeu Deve Morrer
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Um Judeu Deve Morrer

    O anticlímax do nazismo

    por Bruno Carmelo

    Em 2009, o suíço Jacques Chessex publicou o livro Un Juif Pour L’Exemple ("Um judeu como exemplo"), relatando o episódio de sua infância quando testemunhou o assassinato de um comerciante judeu por um grupo de nazistas de seu vilarejo. A adaptação cinematográfica do romance se abre de maneira previsível, com um letreiro apresentando o protagonista, a época em que ele se encontra e o tema do filme. O que se segue, no entanto, é tudo menos uma biografia histórica tradicional.

    Primeiro, o diretor Jacob Berger fragmenta o protagonismo. A criança é abandonada na história durante muito tempo, quando a narrativa começa a privilegiar a vítima, Arthur Bloch (Bruno Ganz). Depois, ambos são deixados de lado para a câmera se infiltrar no grupo de nazistas, liderado por Fernand Ischi (Aurélien Patouillard). O projeto tem por objetivo oferecer um olhar onisciente, presente em todos os lugares ao mesmo tempo. O resultado é a redução do suspense: quando o espectador conhece todos os elementos em jogo, não há muito pelo que esperar. Em seguida, perde-se a noção de ponto de vista: não temos tempo de torcer por um personagem ou temer pelo outro, pois ele é logo esquecido na trama.

    Segundo, o cineasta evita a espetacularização do tempo e do espaço. O ator André Wilms perambula em diversas cenas pelas ruas da cidade antes que se perceba que ele interpreta, de fato, a versão adulta do pequeno Chessex, convivendo com seu passado sem nenhuma distinção estilística para esclarecer o lapso temporal. A anunciada cena de assassinato ocorre com uma frieza anticlimática, deixando claro que Berger não pretende despertar nenhum prazer sádico com a morte da vítima. Em termos humanistas, a escolha se justifica; em critérios cinematográficos, o efeito provocado é de apatia diante do crime, retratado com o peso de uma ação cotidiana qualquer.

    Livre de paixões, de lágrimas e da condução emocional do espectador, A Jew Must Die soa como uma rara incursão cerebral numa ferida tão emotiva da História quanto a Segunda Guerra Mundial. A revolta dos habitantes locais contra Chessex, por continuar abordando o assunto durante a fase adulta, traz alguns dos melhores momentos do projeto, expondo a fragilidade da Europa ao lidar com a herança do nazismo. A solução mais adequada é esquecer e seguir em frente, ou tocar no tema sempre que possível, para impedir o esquecimento e a consequente reprodução dos fatos? Neste aspecto, o projeto efetua uma boa reflexão sem tomar partidos.

    Enquanto produção histórica, no entanto, soa curiosamente artificial, com um desapego atípico aos personagens, cenas de perseguição com um Chroma Key bastante fraco e diálogos que escancaram o didatismo. O rígido distanciamento dos fatos produz uma espécie de descaso em relação à morte cruel que constitui o motor da história. É mais fácil louvar as intenções do filme do que se envolver com ele.

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