Helena (
Paolla Oliveira) é uma mulher bonita, independente e em constante insatisfação. Em helicópteros e gruas, imagens aéreas revelam lindas imagens de um Rio de Janeiro ensolarado, muitas das quais direto da varanda da casa da protagonista, localizada em um ponto alto, com vista privilegiada da Cidade Maravilhosa. Apesar de tal elaboração visual, o discurso comunica a persistência da desilusão de Helena, que, após um concerto de temática lusitana, decide aceitar um bom emprego em Lisboa — onde também encontra um apartamento charmoso em uma área nobre, mas segue triste. Pobre Helena...
Essa construção confusa é a tônica de
Alguém Como Eu, do início ao fim. Ao mesmo tempo que o filme anseia extrair do espectador a identificação por Helena, as frustrações narradas por ela mesma soam sempre muito tolas, no maior estilo
white people problems. E não porque a protagonista é bem-sucedida: a diretora e roteirista
Nancy Meyers baseia toda sua carreira em personagens da alta sociedade com vidas aparentemente perfeitas passando por adversidades capazes de gerar empatia e evocar a compreensão do espectador, vide os simpáticos
Alguém Tem Que Ceder,
Simplesmente Complicado e
Um Senhor Estagiário.
O diretor lusitano
Leonel Vieira e as roteiristas brasileiras
Adriana Falcão (
A Mulher Invisível) e
Tatiana Maciel (
Desculpe o Transtorno) têm uma posição duvidosa em relação a Helena, que segue chateada mesmo depois de encontrar em Alex (
Ricardo Pereira) um namorado retratado como perfeito; os sinais de desgate encenados em
Alguém Como Eu são fragilíssimos, e a resposta de Helena pode ser bem radical e dolorosa para o ex-companheiro. Muito embora o longa-metragem se assuma como a jornada de autoaprendizado de Helena (e autoajuda para o público, especialmente feminino), a personagem nunca deixa de ser aborrecida. Ainda pior é notar, apesar da aura delicada do filme, aquela concepção viciada, simplista, de que a mulher é exigente demais, nunca está satisfeita com nada. Algo, no mínimo, ultrapassado.
Um exemplo dessa visão estereotipada é o elemento realista fantástico presente no filme: quando Helena deseja que Alex seja como ela, seu namorado se transforma em uma mulher. Vivida por
Sara Prata, a personagem não se parece
em nada com Helena; tem apenas o mesmo gênero e uma ânsia desmedida de agradá-la. Narrativamente, o argumento de
Pedro Varela com nítida inspiração na comédia nacional
Se Eu Fosse Você ainda é tratado de maneira péssima, com a Alex Mulher sendo retratada como um mero avatar; ou um personagem de
vaudeville, que apenas age, sorri aleatoriamente e não fala. A alternância entre Sara Prata e Ricardo Pereira também é mal realizada, inclusive visualmente, e não à toa a aparente premissa de
Alguém Como Eu é abandonada indiscriminadamente. Esse elemento é tão mal resolvido, tão mal explorado, que até soa como um corpo estranho; como que pudesse ser eliminado do corte final sem causar maior disfunção no roteiro.
Apesar de todos esses problemas de elaboração e desenvolvimento,
Alguém Como Eu reúne qualidades de uma boa comédia romântica. Se os primeiros minutos se debruçam nas belezas do Rio de Janeiro, a relação de Helena e Alex se desenvolve em uma Lisboa idílica, romântica, tão encantadora quanto o próprio casal, de beleza e figurino impecáveis. A fotografia capricha nos espaços abertos e fechados, sempre compondo ambientes aconchegantes. O luso
José Pedro Vasconcelos e a brasileira
Júlia Rabello formam um alívio cômico e um casal bem agradáveis — assim como toda a curta projeção do filme, cujos defeitos não comprometem seu ritmo ou tornam a sessão enfadonha.