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    Pedro Osmar - Prá Liberdade Que Se Conquista
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Pedro Osmar - Prá Liberdade Que Se Conquista

    O artista pela arte

    por Bruno Carmelo

    Para um artista libertário, um filme libertário. O primeiro elemento de destaque neste documentário é sua liberdade formal: o paraibano Pedro Osmar ganha um retrato sem entrevistas elogiosas, sem cartelas históricas em tela, sem a linearidade típica das biografias. Os diretores Eduardo Consonni e Rodrigo T. Marques representam Osmar por sua arte, com uma sucessão de canções e performances encarregando-se por si próprias de criar uma imagem do personagem e um contexto social específico – no caso, o Brasil às vésperas das Diretas Já.

    O tema torna-se ainda mais pertinente nos dias atuais: as imagens de arquivo da população protestando pelo direito de eleger democraticamente seu presidente espelham nosso ano de 2017, embora datem da década de 1980. A textura granulada e o som deficiente são explorados em total consciência pela dupla de cineastas, capazes de ressignificar os conteúdos e aplicar legendas quando acreditam que a compreensão sonora poderia ser prejudicada. O resgate da época é feito pelo valor discursivo e pelo tom de urgência, ao invés da beleza das cenas. Pedro Osmar, Prá Liberdade que Se Conquista é tanto um filme sobre arte quanto sobre política, ou melhor, sobre a conexão essencial entre essas duas esferas.

    O maior trunfo do filme é sua montagem. Os sons dissociados do referencial geram novas interpretações das canções de Pedro Osmar e provocam fricções essenciais à prática do documentário. Os cineastas não se tornam reféns dos arquivos nem do discurso de seu biografado: eles produzem, pela articulação fértil de ideias, um ponto de vista próprio e uma obra de arte autônoma. Além disso, a temporalidade maleável permite saltar do presente ao passado, da apresentação pública a uma oficina sonora promovida pelos músicos no tempo presente, num simples corte da montagem.

    Tamanho desapego à linearidade gera um agradável despojamento, mas também limita o projeto como veículo de informação. Para quem busca dados mais concretos da evolução de Pedro Osmar como artista, ou de sua trajetória pessoal, este não é o melhor filme para encontrar respostas. Com sua estrutura em espiral, o resultado torna-se pouco acessível ao público médio. O músico tampouco é inserido num contexto artístico preciso: compreendemos muito bem sua pertinência àqueles tempos políticos, mas temos pouco acesso à interação com outros nomes libertários da música nordestina da época, ou com pessoas que o tenham influenciado.

    Ao mesmo tempo, as ousadias estéticas de Pedro Osmar, Prá Liberdade que Se Conquista possuem desenvolvimento limitado ao longo da projeção: as cenas impressionam no começo, porém perdem o impacto rumo à conclusão. De duração sucinta, o projeto acena ao possível esgotamento de seus recursos, mas sabe concluir no momento certo. Este é um documentário consciente de seu porte limitado em termos de produção, e muito mais ambicioso como experimento audiovisual do que como cinebiografia.

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