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    Câmara de Espelhos
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Câmara de Espelhos

    Elas por eles

    por Francisco Russo

    Conceitualmente, Câmara de Espelhos é interessante. A partir de uma dinâmica meticulosamente planejada, grupos de homens de diferentes idades, raças e credos são colocados em uma sala isolada, com acesso apenas ao que é exibido em uma TV. Nela, questões relativas ao universo feminino são apresentadas, seja através de imagens, reportagens ou depoimentos, de forma a incitar o debate sobre como os homens enxergam as mulheres. Na prática, não funciona tão bem assim.

    Por mais que o objetivo maior deste documentário seja desnudar o preconceito masculino acerca da mulher, seja por suas peculiaridades ou mesmo pela posição na sociedade, Câmara de Espelhos não rende tão bem quanto poderia devido à confusão gerada ao estabelecer os códigos desta dinâmica, tão importantes para que se possa compreendê-la. Com uma proposta um tanto quanto semelhante a Jogo de Cena, dirigido por Eduardo Coutinho, o longa busca debater assuntos sérios ao mesmo tempo em que provoca um jogo com o espectador, e com os próprios debatedores, no sentido do que é real e fictício. Especialmente a partir da contraditória presença do participante coringa, alguém inserido entre os demais no intuito de, artificialmente, incitar o debate.

    Se para o espectador é muito fácil identificar o coringa, sua participação em cada grupo retratado é tão destoante que pode-se até mesmo questionar a existência de tal artifício. Afinal de contas, suas colocações nunca são relevantes o suficiente ao ponto de justificar tal farsa, enquanto que em outros momentos ele sequer participa - ou, ao menos, suas participações foram cotadas na mesa de edição. Da mesma forma, há um excesso de debatedores em cada grupo que prejudica a própria conversa, já que favorece que um ou dois despontem em detrimento dos demais, escondidos em meio ao coletivo. Isso sem falar em súbitas mudanças nos grupos retratados, onde um dos debatedores entra e sai de cena, sem qualquer explicação, e nos vários momentos em que a captação de áudio deixa a desejar, dificultando bastante a compreensão do que é dito.

    Por mais que todas sejam questões técnicas acerca do jogo empregado, tais fragilidades não apenas destoam a conversa em si como, também, tiram a atenção ao que o filme traz de mais interessante: o debate acerca da mulher. Se por um lado o dito não traz algo de propriamente novo, diante do tanto que se ouve no cotidiano nacional, é sempre assustador se ver diante de preconceitos tão arraigados acerca do papel da mulher perante a sociedade, através das gerações.

    Bem intencionado mas problemático em sua implementação, Câmara de Espelhos atinge parcialmente seu objetivo ao até revelar certos preconceitos, mas sem atingir o alcance desejado devido aos vários problemas, técnicos e de execução, que apresenta.

    Filme visto no 49º Festival de Brasília, em setembro de 2016.

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