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    Rifle
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Rifle

    À bala

    por Francisco Russo

    Há mais em Rifle do que aparenta na superfície. Em seu novo trabalho, o diretor Davi Pretto (Castanha) elabora uma saga intimista de revide, onde a revolta por uma situação inevitável resulta em consequências súbitas e, de certa forma, impiedosas. Tudo em ritmo bastante lento, o que por vezes se torna um problema para a narrativa.

    A trama gira em torno de Dione, um homem do campo que trabalha como empregado em uma pequena fazenda. Introvertido, ele lida com o cotidiano sem nenhuma perspectiva de futuro, apenas levando um dia após o outro. Só que, um dia, surge a ameaça: alguém quer comprar as terras onde trabalha e, caso o negócio seja fechado, ele e todos os demais funcionários serão demitidos e despejados. Afinal de contas, trata-se de um empresário endinheirado da região, dono de outras terras, que pretende otimizar o espaço de forma a alcançar o maior lucro possível.

    A bem da verdade, leva um certo tempo até compreender qual é a real intenção do diretor. Muito graças à performance do protagonista Dione Ávila de Oliveira, em seu primeiro trabalho como ator, que compõe um personagem inexpressivo e com problemas de dicção - nem sempre é possível compreender o que ele diz. Trata-se na verdade de uma caracterização conceitual, que dialoga com a segunda metade do longa-metragem. Sem perspectiva, Dione resolve revidar na única forma que conhece: à bala.

    Diante desta divisão conceitual, Rifle inicia de forma bastante lenta e, aos poucos, ganha alguma agilidade graças especialmente ao belo tratamento de fotografia, explorando com habilidade as sombras e a escuridão decorrentes de uma vida em isolamento. Davi Pretto ainda entrega cenas visualmente arrebatadoras, explorando belas panorâmicas e também a dinâmica da tal resposta de seu personagem principal. O som logo surge como elemento essencial, no impacto proposto pela história.

    Entretanto, se há momentos que brilham pela beleza plástica na construção de tais cenas, Rifle também sofre de uma narrativa extremamente vagarosa, que busca recriar a vida modorrenta daquele lugar perdido no mundo que está prestes a mudar. O desenrolar é na verdade uma analogia às dificuldades de mudança, ainda mais quando esta surge como algo obrigado e envolvendo forças além do seu controle. Nem sempre há respostas nem explicações, há apenas os fatos - e estes repercutem na mente do espectador por algum tempo após o término da sessão.

    Há mais em Rifle do que aparenta na superfície e isto, por si só, é mérito do diretor Davi Pretto neste filme instigante e tão irregular.

    Filme visto no 49º Festival de Brasília, em setembro de 2016.

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