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    O Gênio e o Louco
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    O Gênio e o Louco

    Os donos do idioma

    por Francisco Russo

    Ao primeiro olhar, é até mesmo difícil imaginar como um tema tão técnico quanto o de O Gênio e o Louco poderia render um bom filme. Afinal de contas, estamos falando de um longa-metragem cujo objetivo maior é a construção de um imenso dicionário, que contenha todas as palavras já criadas em séculos de língua inglesa. Por mais que haja o óbvio desafio neste feito, o processo de busca inevitavelmente passa por questões pouco atraentes ao público leigo, mas essenciais a quem lida com linguística. Para tanto, o diretor (e também um dos roteiristas) Farhad Safinia encontrou um caminho bem interessante, de forma não só a trazer dinâmica à narrativa como, também, levantar novos questionamentos.

    O grande pulo do gato foi situar esta história com base em dois personagens centrais quase antagônicos, conectados pelo mesmo interesse na formação das palavras, que representam variações tão díspares quanto realistas da personalidade humana. De um lado, há o dr. W.C. Minor, interpretado por Sean Penn, cuja abertura já entrega sua prisão devido ao assassinato de um inocente, em uma consistente sequência em tom trágico impulsionada pela trilha sonora. Do outro há James Murray, catedrático em vários idiomas que, apesar do preconceito de seus pares, assume a dianteira da empreitada literária. Curiosamente, Mel Gibson foi o escolhido para este personagem mais contido, cuja paixão sobressai apenas na execução bem feita de seu trabalho, um perfil distante aos variados personagens mais emotivos de sua carreira.

    Com base em Murray e Minor, o diretor pouco a pouco constrói dois universos bem distintos: um baseado no tecnicismo e na política existente dentro do próprio mundo acadêmico, passando pelo preconceito inerente à elite e também aos interesses econômicos do meio; e outro fortemente assentado na passionalidade, seja a partir da culpa ou mesmo da loucura, que a todo instante o rodeia. É na transição constante entre razão e emoção que se dá o dinamismo de O Gênio e o Louco, tanto na apresentação sempre tão interessante de tais universos quanto devido às boas atuações de seus protagonistas, em especial Sean Penn. Seu W.C. Minor é de uma profundidade emocional riquíssima, permitindo ao ator mergulhar em um personagem desafiador.

    Soma-se à tal dinâmica a própria estética empregada no longa-metragem, sempre soturna devido à opção pelo uso da iluminação natural ao longo de toda a narrativa. Direção de arte e figurino também acompanham tal proposta, sem esconder a crueza e a sujeira típicas da civilização retratada, a Londres do século XIX. O ponto negativo fica por conta do estranho salto temporal que ocorre entre o segundo e o terceiro ato do filme, um tanto quanto brusco para uma história que vinha tão fluida até então.

    Auxiliado por uma proposta estética rigorosa, Safinia conseguiu extrair de um tema erudito uma história acessível que envolve as dualidades existentes em todo ser humano, nunca apenas razão nem só emoção. É neste equilíbrio bem dosado que O Gênio e o Louco mantém quase sempre seu interesse, trazendo variadas facetas acerca de seus dois universos pré-concebidos que também refletem os muitos interesses da vida em sociedade, sejam eles acadêmicos, econômicos, jurídicos ou mesmo pessoais. Bom filme, impulsionado também pelas boas atuações de seus protagonistas, por mais que eles tenham poucas cenas juntos.

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    Comentários

    • Francisco Carneiro da Cunha
      Francisco Russo é péssimo crítico, deveria vender banana podre nas feiras em vez de ser crítico de cinema, algo que exige pelo menos um mínimo de conhecimento do ser humano e do mundo. O filme é de uma beleza absoluta, obra-prima indiscutível com ótimas direção e interpretações tendo como assunto central o Amor.
    • AntonVicentvitch Vicentvich
      Gozado; não vi uma só palavra na crítica sobre um dos dois grandes temas do filme: a CULPA!
    • Adirson
      Voce disse que a experiencia nao valeu a pena e depois diz que foi muito interessante. Nao entendi.
    • Sidney Amarantine
      Sinceramente não sei como essas pessoas que trabalham na tradução dos filmes arrumam tanta imaginação tola para traduzir o nome dos filmes...
    • Oberaldo Gilmentoo
      Trata-se de um filme, ou de um documentário? 8 horas parece-me ser uma extensao excessiva para um filme.
    • Roberto Moreno
      - Fui ontem, 30 de Abril, assistir a pré-estreia deste excelente filme em Lisboa. - Muito bem produzido e com ótima qualidade artística e histórica. O filme narra a importância de se preservar e promover uma língua, neste caso o inglês. - E, neste âmbito a Fundação Geolíngua já começou a produção de um filme onde será narrada a verdadeira história da autoproclamada língua portuguesa. - O filme terá 8 horas, com início a partir do nascimento da língua portuguesa por decreto do sexto rei de Portugal, D. Dinis, em 1296. - Este filme começou a ser idealizado a partir do Registo de uma Obra literária e artística, com base em ensaios, narrativas e textos confeccionados a partir de 1992 e registrados legalmente a partir de 1994, em Portugal, pelo seu autor Roberto Moreno. - Em 2009 foi também registrado na SPA a origem de uma efeméride - nunca antes imaginada e, nem tampouco celebrada - e que dá pelo nome de 800 anos da língua portuguesa – Desde 2009, a produção deste filme (com suporte em livro e teatro, também) está a todo o vapor - incluindo a sua passagem por vários Tribunais e Ministérios Públicos em Portugal - envolvendo várias dezenas de advogados e jornalistas reais e “atuantes”, onde, no seu devido tempo, deverão ser convidados a participar de uma forma real ou interpretados por atores, pois, estes dois profissionais estão intimamente envolvidos, pelo facto de os mesmos conhecerem muito bem o que está a se passar com este Registro efetuado legalmente na Sociedade Portuguesa de Autores. Sociedade, esta, que também dará origem a um outro filme documentário sobre a sua atuação em todos os registros efetuados por Roberto Moreno nesta Sociedade Portuguesa, desde 1994 - e que dará muito o que falar, com toda a certeza deste mundo. - Quem estiver interessado em participar desta Mega Produção, será muito bem-vindo, com destaque aos advogados e jornalistas, a sério, de preferência e como é evidente. - Meu e-mail é geo@geolingua.org
    • Heitor Q
      O filme e brilhante!! De uma dramaticidade profunda com reflexoes valiosas para o sentido da vida. Explora muito bem o orgulho de uma civilizacao vitoriosa em seu apogeu construindo um marco para eternizar o seu idioma. Os personagens sendo reais convidam o assistente a viajar com eles para seu tempo.
    • Isabelle
      Sean Penn formidável mas deslocado em meio ao roteiro meio esquisito, que chega a ser chato. A experiência não valeu a pena, apesar de despertar a curiosidade para o tema, muito interessante.
    • Jonas S
      Boa crítica. Ansioso para ver o filme.
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