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    Safári
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    João Carlos Correia
    João Carlos Correia

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    4,0
    Enviada em 13 de junho de 2018
    Sáfari é uma palavra com origem na língua africana Swahli que, por sua vez, vem do árabe سفر (pronuncia-se "safara"), e que significa viagem ou jornada. Na cultura ocidental, os safáris se tornaram sinônimos de caçada a animais selvagens da savana (tipo de vegetação rasteira) africana. É sob essa premissa que se baseia o documentário Safári. 

    São dois os tipos de safáris mais conhecidos: o fotográfico, no qual turistas e amantes da natureza apenas fotografam ou filmam os animais selvagens em seu habitat natural; e o de caça, no qual é permitido atirar e matar nesses mesmos animais. 

    O primeiro tipo é bastante comum em países como a África do Sul e o Quênia, que possui grandes projetos de preservação da fauna e flora. O segundo tipo é mais comum em países como a Namíbia, país africano que faz fronteira com Angola, Botswana, Zâmbia e África do Sul. A Namíbia, recentemente, veio às manchetes por ter sido o cenário de filmagens do grande sucesso vencedor de seis Oscars Mad Max: Estrada da Fúria (2015).

    Safári passa-se em um resort de férias chamado "Leopard Lodge", localizado no interior da Namíbia. E é um típico resort onde os hóspedes descansam, tomam banho de sol, bebem uma cerveja gelada e, vão desfrutar a atração local, neste caso o safári.

    Os turistas que aparecem no filme são austríacos e alemães, de idades variadas que vão desde um jovem casal em lua-de-mel até um casal de idosos. São os típicos turistas branquelos de países de primeiro mundo de clima frio que vão passar as férias em um país de terceiro mundo de clima quente, "onde tudo é exótico".

    O cineasta e documentarista - embora diga que não se considera um - austríaco Ulrich Seidl (Import Export) ainda é pouco conhecido no Brasil, mas é um nome muito respeitado lá fora, tendo recebido, entre outros, o prêmio especial do júri do Festival de Veneza, além de indicações ao Urso de Ouro do Festival de Berlim e à Palma de Ouro do Festival de Cannes. É conhecido por seu estilo de direção naturalista e, não raro, perturbador, tanto em filmes de ficção quanto os de não-ficção.

    Em Safári, seu estilo está bastante explícito seja nas cenas de caçadas, quanto nos diálogos dos turistas passando pelas de descarnação das caças abatidas - e aqui é preciso ter um estômago forte, pois mostram as peles e vísceras dos animais sendo arrancadas pelos funcionários do resort que, diga-se de passagem, o fazem com muita habilidade.

    A expressão "macumba para turista", muito utilizada no Brasil, significa uma encenação de ritos dessa crença com objetivo de ganhar dinheiro. Em outras palavras, charlatanismo. Em Safári, nos vemos uma verdadeira "matança para turistas", mas não há nenhum charlatanismo, o negócio é para valer.

    Os turistas - sempre com espingardas pesadas em punho - vem a caçada como uma diversão tal qual em um parque de diversões onde, ao invés de réplicas em papelão ou madeira, os alvos estão vivos, respirando e, ao serem atingidos pelas balas, sangrando. E fazem questão de posarem sorridentes junto com as caças abatidas em fotos nos seus telefones celulares.

    Ao assistir Safári, podemos ver que atitude de colonizador do europeus com relação aos seus antigos colonizados ainda é, em pleno século XXI, bastante forte seja na justificativa de matar os animais - sobre o direito à caça ou com "filosofices" sobre vida e morte - ou no tratamento dados aos negros, vistos como pobres coitados a quem os brancos "ajudam". 

    O que Safári consegue mostrar com muita propriedade é, além do cinismo dessas justificativas e no tratamento aos funcionários do resort, é o chamado lado negro que cada pessoa - neste caso, os turistas - possui em seu interior, que vê nessa caçada uma oportunidade de matar sem sentir remorso e nem ser punido por isso. Sadismo puro.

    Safári é um eficiente documentário de denúncia sobre a crueldade da caça (principalmente de animais em risco de extinção). Mas também serve como reflexão. Se estivéssemos no lugar desses turistas, com armas à mão e permissão para matar sem nenhuma restrição, faríamos o mesmo?
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