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    Ama-San
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Ama-San

    Mergulhando em antigas tradições

    por Barbara Demerov

    Ostras, ouriços, algas e pérolas. Estes são o "alvo" das Ama-San, mergulhadoras japonesas que prestam respeito ao mar enquanto mergulham nele em profundidades surpreendentes sem qualquer tipo de auxílio. Amantes da natureza e de tudo que ela oferece, estas mergulhadoras não levam tanto a imagem de profissionais, mas sim de mulheres dedicadas: seus corpos aguentam ficar até 3 minutos sem respirar e atingem 20 metros de profundidade. Pode parecer algo inusitado, mas acredite: tal tradição existe há milênios.

    Delicadas fora do mar e corajosas dentro dele. Assim as Ama-San são caracterizadas no documentário de Cláudia Varejão que leva o nome das mergulhadoras; contudo, são sempre vistas como independentes dentro e fora de seu meio de atuação. A visão da diretora, que nunca interfere no que acontece em cena, certamente ajuda na percepção de tal universo praticamente desconhecido pelo mundo afora e na naturalidade com que as mulheres exercem suas funções marítimas.

    Com exceção de uma curta narração em off no início (que serve para elucidar bem o tema), Ama-San é um documentário extremamente observativo e cada fragmento de cada quadro compõe uma identificação quase que imediata com as três gerações de mergulhadoras apresentadas. A diretora capta o grandioso através do simples - seja em uma refeição, um olhar ou um gesto -, mas ao mesmo tempo o factual surpreende por ser tão orgânico, dando até a impressão de que o que é dito poderia ter sido roteirizado. A magia das Ama-San estende-se para a terra.

    A grande presença feminina do documentário também dita a importância da presença de tais figuras na cultura japonesa. Se há dois milênios elas são parte de uma tradição essencial, ainda mais importante que tal fato é a faixa etária de sua atuação: entre 50 e 90 anos. Com sensibilidade de sobra em seus planos e enquadramentos, Cláudia Varejão sabe que possui material de ouro em suas mãos e não procura mexer muito no que já está exposto; ela simplesmente deixa as coisas fluírem da melhor forma, como por exemplo nas cenas em que as Amas mais experientes ensinam as jovens a seguirem com a tradição antes do mergulho.

    A existência de um documentário como este representa quão primordial é a informação e o conhecimento terem a chance de ganhar o maior alcance possível. Se por um lado o que as mergulhadoras fazem é incrível e respeitoso para com a natureza japonesa, pelo outro lado até mesmo essa prática que preza pelo natural tem chances de ser extinta. Ama-San aborda a questão mas, sobretudo, entrega um retrato da feminilidade e do feminismo atuando em conjunto.

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