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    Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos

    Descompasso

    por Taiani Mendes

    Um feliz pizzaiolo cego é confrontado pela amada esposa com a possibilidade de voltar a enxergar, o que não acontece desde uma infância já distante e esquecida. Apresentado como principal dilema de Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos, novo filme de Paulo Nascimento, o dilema se resolve de forma incrivelmente rápida na trama. Vagaroso como a rotina sem surpresas do protagonista Vitório (Edson Celulari) pelas ruas calmas do Bixiga, tradicional reduto de imigrantes italianos na capital paulista, o longa-metragem segue uma rota melancólica de desejos fracassados, culminando na vitória do conformismo plácido. Uma volta no quarteirão que deixa na boca certo amargor de tempo perdido.

    O fato de Celulari interpretar um deficiente visual motiva que a maior parte do filme seja dedicada unicamente aos seus esforços dramáticos, mesmo nos menores gestos. A câmera, no entanto, não é um aparelho de radiografia e de nada adianta o personagem no centro de todos os planos se o roteiro não o constrói apropriadamente.

    Frieza é um bom termo para a sensação que a história passa, culpa do roteiro e também da narrativa fragmentada, que estranhamente “poupa” o espectador de qualquer excitação – seja por briga ou romance. Estar na arquibancada de um jogo de futebol nunca foi tão chato e momento mais enérgico é quando ladrões invadem a pizzaria, provocam Vitório e por fim o poupam do pior por “ser aleijado”. O acontecimento obviamente abala o rei das pizzas, mas ao invés de nos aproximar do personagem através de sua dor, o filme pula logo para a consequência do ocorrido.

    O bullying, afinal, é livre, repete o protagonista; e não faltam piadas e trocadilhos sobre visão. Apesar de ser sobre Vitório e só ter olhos para ele, Teu Mundo Não... agrada mais quando se volta para os que estão ao seu redor. O torcedor do Internacional que se passa por corintiano por amizade e a mulher que “trocou” o pai rico pelo romance na cantina são personagens capazes de gerar interesse e obviamente têm mais a oferecer do que escada para Celulari, mas acabam reféns dos monólogos do pizzaiolo que só quer que tudo seja do jeito que sempre foi.

    Desperdício do talento de Leonardo Machado e Soledad Villamil, que até aprendeu português pra isso. A respeito da filha adolescente vivida por Giovana Echeverria é até difícil falar, pois a personagem é pura instabilidade e a cada aparição traz uma informação nova, o que torna impossível qualquer conclusão sobre sua essência ou função na trama, que trata de dependência apenas da boca para fora.

    Com direção de fotografia dedicada a texturas e closes, acompanhando a ideia de “enxergar por dentro” que diferencia Vitório dos demais, Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos afirma que o mundo dele é baseado na ausência de alterações e que tem coisas que é melhor mesmo nunca ver – ou desver. Apesar de buscar a sensibilização, ao público resta por fim constatar o tanto que o drama sem gana é dependente de seu astro e produtor. E isso não é satisfatório.

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    Comentários

    • Danilo Coutinho
      Entendo a importância que o filme teve, ainda mais pelo tema tratado e também da questão da acessibilidade, mas precisava ser tão fraco? A trama é muito arrastada, a história não se aprofunda em nenhum personagem e nem consegue causar sensações (boas ou ruins) a partir dos dramas gerados. A Soledad teve uma atuação robótica, provavelmente por causa do roteiro que deixou o personagem dela muito raso, longe daquela atriz que vimos em El secreto de sus ojos.
    • Edson Junior Montanha
      É compreensível que uma pessoa que não tenha convivido com cegos ache um absurdo e classifique como conformismo o fato de alguém não desejar enxergar. Como assim? Será que ser cego é melhor do que ter a visão? Na verdade, ser cego é muito ruim, especialmente num mundo sem acessibilidade em que vivemos. Mas a adaptação ao mundo visual é um problema muito mais complexo do que simplesmente resolver a dicotomia ver/não ver. Nasci com praticamente toda a visão comprometida e perdi o restante na infância. Sei bem o que é nunca ter enxergado de fato. E por isso não vejo o personagem de Edson Celulari como um conformado, que vive uma realidade melancólica, como a crítica lamentavelmente afirma. Ainda não assisti ao filme, mas nunca tive expectativa de que fosse um primor de obra do cinema. No entanto, uma pessoa que se propõe a fazer crítica de cinema precisa conhecer não só dos aspectos técnicos de uma produção, mas deve tentar entender como é a realidade cotidiana de um determinado segmento social que está sendo transportado para a telona. A impressão que eu tenho é que a crítica do Adoro Cinema nunca viu um cego diante dela. E eu gostaria de saber se a expressão aleijado, usada no texto, é da autora da crítica ou se ela utilizou uma expressão contida no filme. Como a expressão não está entre aspas, parece ser ideia de quem escreveu o texto, o que torna essa crítica ainda mais preconceituosa. Enfim, gostaria de dar à crítica do Adoro Cinema a mesma nota que ela deu ao filme, mas não dá pra chegar a tanto.
    • Isadora R.
      Não acho satisfatório ter 500 mil cegos no Brasil e eles não conseguirem irem ao cinema pois não tem acessibilidade. Também não acho satisfatório a ignorância dos videntes em relação a essas pessoas invisíveis e muito menos satisfatorio uma critica que desconhece a realidade dessa minoria no país. Satisfatório é um filme ser lançado em rede nacional com acessibilidade comunicacional (o que é lei), e trazer a tona uma invisibilidade. Mais sensibilidade, e menos crítica, por favor!
    • Allan Costa
      Olha, ao contrário do crítico, eu ainda não assisti esse filme, posso estar errado, mas... Aparentemente, ao ler a crítica, parece uma opinião gerada por alguém que não entendeu a proposta do filme.
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